sábado, 28 de fevereiro de 2015

Atraso na usina de Belo Monte começa a gerar prejuízos para controladores

Fonte: Valor Econômico 27/02/2015


A partir deste sábado, o atraso nas obras da hidrelétrica de Belo Monte, em construção no rio Xingu (PA), começará oficialmente a gerar prejuízos à concessionária Norte Energia. Isso porque não entrará em operação a primeira das 24 turbinas do megaprojeto de energia na Amazônia.

Ao frustrar a expectativa de entrega de energia ao sistema elétrico, os empreendedores de Belo Monte deverão recorrer ao mercado de curto prazo (spot) para repor, na mesma proporção, os montantes devidos. Segundo cálculos de especialistas consultados pelo Valor, as perdas decorrentes do adiamento da entrada em operação das primeiras turbinas devem atingir R$ 440 milhões em um ano.

O projeto da hidrelétrica Belo Monte é divido em duas casas de força que acomodarão as 24 turbinas. Nesse fim de semana era esperada a entrada em operação comercial da primeira das seis unidades de geração da casa de força complementar (Pimental). Todas elas estão atrasadas em um ano, segundo relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Cada turbina da casa de força complementar terá a potência de 38,9 megawatts (MW), inferior à capacidade de geração individual de 611,1 MW das 18 turbinas da casa de força principal (Belo Monte). Ao ser concluída, a usina deve totalizar a potência de 11.233 MW em 2019.

O cálculo do prejuízo de R$ 440 milhões, com a demora na operação da casa de força complementar, foi feito a partir do calendário do Ministério de Minas e Energia com atraso de 338 dias. Já com a previsão da Aneel, que totaliza um ano, as perdas podem ser ainda maiores. O cálculo encomendado pelo Valor também considerou o montante de energia que deveria ser entregue no período de atraso e a confirmação do cenário de baixa no nível dos reservatórios, que deve manter o preço spot da energia no teto de R$ 388 por megawatt-hora (MWh).

O consórcio Norte Energia deve colocar o cronograma de obras em dia apenas em março de 2016, quando a primeira das 18 turbinas da casa de força principal entrará em operação. Se novos atrasos ocorrerem nesta fase, os empreendedores podem sofrer danos financeiros irreparáveis, em razão dos grandes montantes de energia que precisariam ser repassados ao sistema elétrico com a compra de energia no mercado spot.

Atualmente, a Norte Energia tem a expectativa de ser perdoada pelos atrasos que, segundo a empresa, foram provocados por ordens judiciais, quebra-quebras em protestos de funcionários, ocupações dos canteiros de obras por representações das populações indígenas da região e problemas de licenciamento ambiental.

O pleito ainda será analisado pela diretoria da agência reguladora. No entanto, duas áreas técnicas da autarquia e a procuradoria jurídica já emitiram pareceres desfavoráveis à concessionária de Belo Monte. Nesse sentido, o empreendedor não descarta levar a questão à Justiça, caso a agência rejeite suas alegações. "A Norte Energia buscará em todas as instâncias o seu direito ao reconhecimento do excludente de responsabilidade", informou ao Valor.

Questionada sobre os atrasos, a Norte Energia informou que, "mesmo com centenas de dias com paralisações", tem feito investimentos no acréscimo de mão de obra e em tecnologia para "reduzir ao máximo qualquer atraso". Tal iniciativa, segundo a empresa, já tem mostrado resultados que podem levar à entrada em operação da primeira turbina da casa de força complementar em novembro de 2015, o que contraria a previsão do Ministério de Minas e Energia e da Aneel. A concessionária ressaltou ainda que a casa de força Pimental responde por apenas 3% da geração da usina.

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