Fonte Portal EcoDebate 07/12/2016
Incêndios na Floresta Amazônica acarretam uma redução de 94% das espécies de árvores. Entrevista especial com Erika Berenguer
IHU
A área de queimada em quatro municípios do Pará — Santarém, Belterra, Mojuí dos Campos e Uruará — foi de “7.400 km2, afetando 12% da Floresta Nacional do Tapajós, uma das Unidades de Conservação mais estudadas do país”, informa Erika Berenguer à IHU On-Line. Segundo ela, “só a área queimada nesses quatro municípios é maior do que todo o desmatamento registrado no mesmo período em toda a Amazônia Legal”.
A pesquisadora explica, na entrevista a seguir, concedida por e-mail, que entre os fatores que contribuem para o aumento das queimadas na Amazônia, destacam-se “o uso do fogo no preparo da terra para cultivo”, o fato de as florestas estarem “cada vez mais degradadas” e ainda os efeitos das mudanças climáticas. “Os agricultores, em sua grande maioria, usam as queimadas com cuidado, porém o clima cada vez mais seco e quente na região amazônica devido às mudanças climáticas tem contribuído para as queimadas saírem de controle, virando grandes incêndios acidentais, que queimam áreas de cultivo e benfeitorias, assim como adentram as florestas, queimando-as”, diz.
Erika lembra que anos atrás, quando o fogo entrava na floresta, os efeitos não eram devastadores porque a floresta era bastante úmida, no entanto a “extração de madeira” e os “incêndios” têm causado uma “grande mortalidade da vegetação, o que resulta em muitas folhas e galhos no chão da mata e gera clareiras no meio da floresta. Essas clareiras permitem uma maior entrada de luz solar e de vento, deixando a floresta mais seca. A combinação de uma floresta mais seca e cheia de combustível no chão a torna muito mais vulnerável aos incêndios, gerando então um ciclo vicioso”, explica. Entre os resultados negativos desse processo, a pesquisadora menciona, após ter acompanhado de perto os incêndios durante três meses na região de Santarém, que “as matas que já sofreram tanto com a extração madeireira quanto com os incêndios apresentam uma redução de até 94% das espécies de árvores, 86% das espécies de besouros rola-bosta e 54% das espécies de aves”.
Para reverter esse processo, Erika pontua que é necessário “evitar uma maior degradação das florestas, como, por exemplo, maior fiscalização e punição de extração ilegal de madeira”. Em períodos de secas extremas, frisa, é essencial que “sejam direcionados incentivos financeiros de emergência para os municípios que geralmente têm maior ocorrência de incêndios. Tais incentivos teriam o objetivo duplo de prevenir os incêndios antes do desencadear da seca e de combater os incêndios após o início da seca”.
Erika Berenguer é bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora em Ecologia pela Lancaster University, Reino Unido. É pesquisadora nas universidades britânicas Lancaster e Oxford. Há 14 anos trabalha com os impactos antrópicos nas florestas tropicais, focando primeiro na Mata Atlântica e, ao longo dos últimos 8 anos, trabalhando na Amazônia. Está envolvida em projetos que buscam desenvolver um maior entendimento sobre os possíveis impactos da fragmentação, da extração de madeira e dos incêndios acidentais na biodiversidade e nos estoques de carbono das florestas afetadas.
Confira a entrevista.