quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Fundo Amazônia recebe mais R$ 271,2 milhões da Noruega e da Alemanha

Fonte: BNDES 20 de dezembro de 2017
Maior doador do Fundo, Noroega fez aporte de 139,3 milhoes
Doação da Alemanha foi de R$ 131,9 milhões
Fundo Amazônia já apoiou 93 projetos com R$ 1,5 bilhão

Uma floresta. Legenda: Fundo Amazônia. O Brasil cuida. O mundo apoia. Todos ganham.
O Fundo Amazônia, administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente, recebeu novas doações do governo da Noruega e do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (Kreditanstalt für Wiederaufbau - KfW) que totalizam R$ 271,2 milhões para apoiar projetos de combate ao desmatamento e a conservação da Floresta Amazônica. Com essas contribuições, o total de recursos do Fundo Amazônia soma agora R$ 3,1 bilhões.
O governo norueguês é o maior doador do Fundo Amazônia. Com esse novo desembolso, de R$ 139,3 milhões (350 milhões de coroas norueguesas), os recursos doados pela Noruega somam R$ 2,9 bilhões, representando 93,3% do total dos recursos do Fundo. Já a Alemanha doou R$ 131,9 milhões (€ 33,92 milhões), elevando sua participação no Fundo Amazônia para 6,2% do total dos recursos, com R$ 192,7 milhões. As doações da Petrobras foram de R$ 16,045 milhões (0,5% do total).
Os aportes de recursos dos doadores estão diretamente vinculados à redução da emissão de gases oriundos de desmatamento e da degradação florestal – ou seja, as doações dependerão dos resultados dos esforços de redução da taxa anual de desmatamento. 

Em nove anos, 93 projetos apoiados

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Estudo comprova viabilidade econômica de reflorestamento com espécies nativas


Fonte: EcoDebate 19/08/2017

floresta

O Brasil se comprometeu a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030 como parte de sua meta climática no Acordo de Paris. Isso significa que é preciso dar escala a projetos de reflorestamento de espécies nativas e de sistemas agroflorestais, que precisam ser rentáveis para atrair investimentos.
Poucos países têm a vocação florestal do Brasil e é possível olhar para este tema na lógica das oportunidades de negócio”, afirma Miguel Calmon, diretor de Florestas do WRI Brasil. O Projeto VERENA (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas) mostra que o reflorestamento com espécies nativas é economicamente competitivo. Uma ferramenta gratuita foi desenvolvida para calcular se um projeto de reflorestamento ou sistema agroflorestal (SAF) é viável, ou seja, se equilibra capital financeiro e natural e oferece oportunidades de negócio e emprego no meio rural. A iniciativa analisou nos dois últimos anos a viabilidade técnica e econômica do reflorestamento com espécies nativas, e também os benefícios sociais e ambientais, de 12 estudos de caso em propriedades na Amazônia e Mata Atlântica.
Para tomar uma decisão, os investidores precisam ter mais informação sobre risco e retorno. As espécies arbóreas nativas brasileiras existem há milhares de anos e já protagonizam experiências comerciais bem-sucedidas, mas não no mercado de capitais. Estudos de caso são importantes para a criação de um histórico de práticas e para diminuir a percepção de risco”, destaca Alan Batista, Analista de Investimentos do WRI Brasil.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A mandioca é o cheiro de Belém no Círio de Nazaré (PA), por Raimundo Nonato Brabo Alves e Moisés de Souza Modesto Júnior

Fonte: EcoDebate 09/10/2017

Além de cultura, a mandioca é sinônimo de emprego, renda e segurança alimentar aos paraenses.


[EcoDebate] Não há cultura mais tradicional no Brasil e mais ligada à vida do paraense que a mandioca. Principalmente neste momento que antecede o Círio de Nazaré, no segundo domingo de outubro. No município de Acará, maior produtor de mandioca do Brasil, distante 33 quilômetros da capital paraense, mais especificamente no ramal da Samaumeira, a movimentação de agricultores familiares da Vila do Açu é grande na colheita de raízes e folhas de mandioca, para venda nas feiras livres da região metropolitana de Belém (PA).
As raízes serão trituradas e espremidas para retirada do tucupi, um líquido amarelo usado na preparação do tradicional pato no molho do tucupi. As folhas, ricas em proteína, são moídas e cozidas para serem usadas na preparação da maniçoba. Ambos são pratos tradicionais da culinária paraense.
Esses agricultores da Vila do Açu se preparam com um ano de antecedência, plantando mandioca da variedade Ouro Preto, de polpa bem amarela, “cor de ouro”, rica em carotenóides, específica para a produção do tucupi. Neste período, que antecede o Círio de Nazaré, a demanda é elevada e a cotação da raiz de mandioca de polpa amarela é a mais alta, quando os agricultores conseguem preço acima de R$1 mil por tonelada de raiz.
Fora desta época, o preço médio varia de R$550 a R$650 a tonelada. Os agricultores também comercializam as folhas cruas da mandioca ao preço de R$1 por quilograma, no entanto, nas feiras livres de Belém as folhas são trituradas e comercializadas cruas ou pré-cozidas a preços que variam de R$ 3 a R$ 5 o pacote com um quilo para o consumidor final, respectivamente. O tucupi é vendido em média a R$ 5 por litro.
Na semana que antecede o Círio de Nazaré entram na cidade junto com os romeiros, milhares de caminhões e barcos carregados de sacos de farinha e folhas de mandioca, para o abastecimento de feiras livres e supermercados. É o produto de origem agrícola comercializado, em maior volume, na Ceasa de Belém.
O estado do Pará é o maior produtor de mandioca do Brasil, com 4,8 milhões de toneladas de raízes, em 2015, correspondendo a 21% da produção nacional. Neste ano, estimou-se que a cultura da mandioca gerou mais de 200 mil ocupações no meio rural e cerca de 95 mil pessoas trabalhando nas casas de farinha, que são agroindústrias que funcionam no estado, na informalidade com estruturas produtivas instaladas no meio rural, que processam, pelo método artesanal ou semi-mecanizado, as raízes de mandioca para produção de farinha de mesa.
Nas feiras livres de Belém, a farinha é vendida na forma de litro e, portanto, os feirantes convertem, na venda, um saco de 60 kg em 85 litros de farinha. Pagam ao intermediário R$ 200 pelo saco e vendem o litro, no varejo, ao preço médio de R$ 5 auferindo uma margem de lucro de R$ 225 por saco. Alguns feirantes vendem de cinco a sete sacos de farinha por semana, produtos originários dos municípios de Castanhal, Santa Maria do Pará e São Miguel do Guamá. Segundo depoimentos obtidos de pessoas que trabalham na feira da Travessa 25 de Setembro, uma das mais tradicionais da cidade, mais de 60 feirantes vivem da venda de farinha e outros produtos derivados da mandioca.
Estes indicadores revelam a importância econômica e social da cultura da mandioca, no contexto da geração de emprego, renda e segurança alimentar, considerando a existência de centenas de feiras livres na região metropolitana de Belém e municípios do interior do estado do Pará, em que são comercializadas farinha e demais derivados da mandioca.
Outra feirante, natural do município de Cametá, vive da venda de tucupi, também na feira da Travessa 25 de Setembro. Durante a época do Círio de Nazaré, chega a vender até 1.500 litros de tucupi ao preço de R$ 5, enquanto fora deste período, vende em média 25 litros por dia. Ela paga R$50 a R$70 por saco de mandioca, que lhe rende em média 70 litros de tucupi.
Em 2017, no Círio de Nazaré, são esperados mais de 1,5 milhões de peregrinos e milhares de turistas visitarão a cidade de Belém. Além de acompanharem as procissões terrestres e fluviais, terão como atrações turísticas a Estação das Docas, Casa das 11 Janelas, Catedral da Sé e Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, Mangal das Garças, Museu Goeldi, Bosque Rodrigues Alves e outros.
Tudo isso, degustando as delícias da culinária paraense como a maniçoba, o pato no tucupi, o tacacá, o caruru, a tapioquinha e diversos tipos de sorvetes com sabores de frutas regionais da Amazônia, tais como: bacuri, cupuaçu, açaí, muruci, taperebá, uxí e também o sorvete de farinha de tapioca.
Os agricultores familiares devem ser reconhecidos como verdadeiros protagonistas desta grandiosa festa popular e religiosa que é o Círio de Nazaré, por sua tradição milenar e pela influência de sua cultura na culinária paraense, culminando com estas delícias que são o cheiro de Belém na semana do Círio de Nazaré: a maniçoba, o tacacá e o pato no tucupi. Vale a pena conferir, com as bênçãos de Nossa Senhora de Nazaré.

números da mandioca

Raimundo Nonato Brabo Alves – Eng. Agr. M.SC em Fitotecnia, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, e-mail: raimundo.brabo-alves@embrapa.br
Moisés de Souza Modesto Júnior – Eng. Agr. Especialista em Marketing e Agronegócio, Analista da Embrapa Amazônia Oriental, e-mail: moises.modesto@embrapa.br.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Produção de comidas típicas movimenta a agricultura e a economia no Círio de Nazaré, artigo de Alfredo Homma

 Fonte: EcoDebate 04/10/2017

Pesquisa estima produção agrícola de ingredientes típicos para atender o consumo no almoço do Círio.
Belém do Pará, na época do Círio, o inconfundível aroma do pato-no-tucupi, maniçoba e tacacá espalham-se pelos quatro quadrantes da cidade. Patrick Süskind, autor do best seller “Perfume”, lançado em 1985, que criou o personagem Jean-Baptiste Grenouille, com a capacidade de criar aromas que transmitiam atração, menosprezo, nojo, prazer, amor e ódio, não teria um cenário mais apropriado do que Belém para a sua transfiguração.
A inexistência de dados estatísticos não limita a tecer algumas especulações quanto ao consumo de jambu, tucupi e de aves (frango, pato, peru e chester), no domingo do Círio, para avaliar o volume de negócios e a importância que um maior planejamento poderia representar para a agricultura regional. O chef-de-cuisine Paulo Martins (1946-2010), no seu magnífico vídeo “Cozinha Paraense”, estabelece a relação de 1 pato para três litros de tucupi e três maços de jambu. Com estes índices pode-se especular quanto a quantidade destes ingredientes consumidos por ocasião da festividade do Círio de Nazaré.
A estimativa da Diretoria da Festa de Nazaré e do Dieese/PA é que mais de dois milhões de pessoas acompanharam o Círio 2016. Considerando que 20% desses romeiros iriam consumir o tradicional pato no tucupi no almoço daria 400 mil pessoas. Outra pressuposição é que 5 pessoas consumiriam o equivalente a um pato. Dessa forma teríamos um consumo de 80 mil patos, 240 mil litros de tucupi (12 caminhões tanque com capacidade de 20 mil litros) e 240 mil maços de jambu.
Para atender este consumo seriam necessários 5 hectares de canteiros de jambu e de 27 hectares de mandioca para a extração de tucupi para ser consumida em apenas um dia. Significa geração de renda e emprego para pequenos produtores localizados na zona Bragantina e, principalmente, nos municípios de Santo Antônio do Tauá e Santa Izabel do Pará, com destaque na produção de jambu.
Creio que muitas pessoas devem ter questionado, ao saborear essas iguarias paraenses, quem foi o descobridor de que as folhas de jambu, o tucupi ou as folhas venenosas da mandioca cozida poderiam ser aproveitadas? O mesmo vale para a farinha de mandioca proveniente de uma raiz mortal. Não existe invenção maior do que a farinha de mandioca. Segundo o ditado popular “aumenta o pouco, esfria o quente, engrossa o ralo e alimenta a gente”. Prático para armazenar, transportar, pronto para consumir, entre outras vantagens. Moldou a civilização brasileira e mundial e vem despertando o interesse dos grandes empresários no seu cultivo mecanizado.
Devemos aos indígenas da Amazônia a descoberta do jambu e do tucupi que foram combinadas com o saber dos escravos africanos no aproveitamento das folhas de mandioca cozida, criando a nossa feijoada verde.
A expansão do cultivo do jambu enseja, portanto, algumas lições importantes para o desenvolvimento regional. No momento, fica-se discutindo muito sobre a biodiversidade amazônica como algo mágico que vai salvar a região. O exemplo do jambu mostra a importância que devemos dar para os recursos da biodiversidade, à medida em que são domesticados e aqueles que já são cultivados. O uso tradicional do jambu foi ampliado como ingrediente de pizzas, coxinhas, arroz, cachaça, licor, cosméticos, fármacos, entre outros.
Devemos avançar na pesquisa sobre usos mais nobres do jambu (cosméticos, fármacos, etc.) nos quais muitas patentes estão sendo registradas nos países desenvolvidos. Constituindo-se em uma planta com possibilidades de atrair a indústria farmacêutica e cosmética mundial ou como uma hortaliça exótica, torna-se questionável tópicos sobre a legislação de acesso a biodiversidade que não estimula empresários a investirem visando a sua verticalização. O jambu já está sendo cultivado em São Paulo e em diversos países como a China, Índia e Japão.
Finalizando, o jambu que estimulou as papilas gustativas dos gastrônomos mais experimentados, poderiam trazer novos mercados para esse produto. Reforça-se a ideia de que a criação de um parque produtivo local e a sua verticalização como importantes para o desenvolvimento de uma agricultura amazônica baseado em produtos da sua biodiversidade.
Alfredo Homma – pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Está aberta a Chamada Pública nº 01/2017 "Consolidação e fortalecimento de cadeias de valor sustentáveis e inclusivas"

Fonte: BNDES 10/08/2017

O Fundo Amazônia, lançou no dia 9 de agosto de 2017 a Chamada Pública nº 2017/01, Consolidação e fortalecimento de cadeias de valor sustentáveis e inclusivas, para financiar, com recursos destinados de R$ 150 milhões, até dez projetos de conservação e uso sustentável da Amazônia Legal com foco em atividades. 

As propostas e atividades apoiadas devem beneficiar prioritariamente povos e comunidades tradicionais, povos indígenas, quilombolas, assentados da reforma agrária, pescadores artesanais, aquicultores familiares e agricultores familiares localizados na Amazônia Legal.

Os projetos desta nova chamada pública deverão ser apresentados na modalidade aglutinadora. Ou seja, a entidade proponente deverá aglutinar pelo menos 3 subprojetos de outras organizações, de forma integrada e coordenada. 

Cada projeto poderá receber de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões de forma não-reembolsável e terá que abranger pelo menos uma das seguintes atividades econômicas:

•Manejo florestal madeireiro e não madeireiro, incluindo manejo de fauna silvestre.
•Aquicultura e arranjos de pesca.
•Sistemas alternativos de produção de base agroecológica e agroflorestal.
•Turismo de base comunitária.

O período de inscrição de projetos vai até dia 7 de dezembro de 2017. A divulgação final dos aprovados está prevista para 13 de abril de 2018. Os projetos poderão ser apresentados por associações, cooperativas, fundações de direito privado e empresas privadas.

Esclarecimentos adicionais podem ser obtidos por meio da caixa postal cadeiasdevalor.2017@bndes.gov.br
Clique aqui para acessar a página da Chamada para mais informações.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Agroecologia na prática: Comunidades mostram que é possível produzir alimentos saudáveis sem agredir o meio ambiente

Fonte: EcoDebate 18/07/2017

Reportagem de André Antunes – EPSJV/Fiocruz

Agroecologia na prática: Comunidades mostram que é possível produzir alimentos saudáveis sem agredir o meio ambiente

Divulgar experiências exitosas de produção agroecológica e de organização comunitária foi um dos objetivos da Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano, que percorreu localidades ao longo do São Francisco, no norte da Bahia, entre os dias 26 e 30 de junho.
Com esse objetivo, a caravana, que reuniu cerca de 70 pessoas de diversas organizações, entre elas a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), visitou, no dia 29 de junho, a comunidade de Coxo de Dentro, localizada na cidade de Jacobina, para conhecer o trabalho desenvolvido pela Associação Comercial dos Moradores e Agricultores de Coxo de Dentro. Com 112 membros, a associação, criada em 2000, vem trabalhando na organização do trabalho de extração do babaçu feita pelos moradores da comunidade e também na indução da transição agroecológica na produção da agricultura familiar local.
A comunidade fica em uma região de transição da caatinga para a mata atlântica, uma área com elevados índices pluviométricos e rica em nascentes, que abastecem alguns dos rios mais importantes do norte da Bahia, como o Itapicuru. “A gente tenta mostrar para a comunidade que é melhor para o meio ambiente e para a saúde produzir de maneira sustentável, sem utilizar nenhum tipo de agrotóxico nem fertilizantes químicos”, diz Robério Santos de Jesus, presidente da associação, que explica que as lavouras utilizam um biofertilizante natural produzido ali mesmo. “A variedade da produção também combate os insetos. Ao invés de plantar uma coisa só, você vai diversificando a produção, para que o inseto ataque uma planta e já não ataque outra”, explica Robério, que ressalta ainda a importância da rotatividade de culturas para a preservação dos solos, que reduz a necessidade de utilização de fertilizantes.
A extração do babaçu, que complementa a renda gerada pela comunidade através da comercialização da produção em feiras orgânicas da região, também é feita de acordo com os princípios da agroecologia: as palmeiras ocorrem naturalmente na região, e somente os frutos que caem no chão são recolhidos. Na associação local é feito o beneficiamento. “É um produto que se aproveita tudo. Aqui a gente faz carvão, faz o óleo do babaçu, faz sabonete, hidratante e também faz bijuterias, artesanato”, lista Robério.
Ieda Amaral, moradora da comunidade que trabalha na extração do babaçu, conta que anteriormente era comum a retirada dos cachos do alto das palmeiras. “Eu mesma cortei muito cacho de babaçu para vender na feira. A gente não tinha uma sobrevivência boa. Não era certo, mas eu era obrigada”, lembra Ieda, que completa: “Depois que a gente foi trabalhando, vendendo as coisas da roça, foi que a gente foi aprendendo a trabalhar na roça e deixar mais o coco sossegado. Quando a gente cortava não tinha quase coco no mato. Hoje tem muito”, ressalta. Ieda conta ainda que a transição para a agroecologia em seu roçado significou mais diversidade para sua produção e alimentação. “Hoje só compro no mercado o que não produzo aqui: arroz, feijão e carne. O resto eu planto: cenoura, beterraba, agrião, alho-poró, cebolinha, abóbora…” enumera. Antes, continua, ela plantava apenas banana e mandioca, e usava venenos pra combater pragas na lavoura. “Depois que eu aprendi a trabalhar assim me sinto outra pessoa, mais esperta na vida”, comemora.

Comunidade quilombola gera renda a partir da organização comunitária

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Após veto, governo envia ao Congresso novo projeto que reduz a Flona do Jamanxim, no Pará

Fonte: EcoDebate 15/07/2017

 Árvore jovem de cedro divide espaço com legumes e verduras na horta de Cláudio, que trabalha com o sistema agroflorestal, no assentamento Vale do Amanhecer, no município de Juruena. Os sistemas
A Floresta Nacional é uma categoria de unidade de conservação de uso mais restrito que a Área de Proteção Ambiental (APA). Foto: Marcelo Camargo/Arquivo/Agência Brasil

O governo federal enviou ao Congresso um novo projeto de lei que diminui os limites da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará, para criar uma Área de Proteção Ambiental (APA), unidade de conservação de uso mais flexível. A nova proposta foi elaborada após veto do presidente Michel Temer a duas medidas provisórias alteradas pelos parlamentares para reduzir a Flona.
O novo projeto de lei prevê que a APA do Jamanxim terá cerca de 350 mil hectares e permitirá a regularização fundiária de propriedades existentes na região. Já a Flona do Jamanxin, que foi criada em 2006 e tem 1,3 milhão de hectares, será reduzida para 954 mil hectares. De acordo com o governo, as ações propostas têm como objetivo reduzir o desmatamento, diminuir os conflitos e fortalecer as ações de governança na região.
Em junho, diante da mobilização de ambientalistas, Temer voltou atrás na proposta de alterar os limites da floresta e vetou integralmente a medida que previa a redução da Flona do Jamanxim. Desde então, a rodovia BR-163 tem sido palco de manifestações de produtores rurais que pedem a redução da área da floresta nacional. Na semana passada, dois caminhões cegonha que transportavam viaturas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram incendiadas durante uma emboscada em um município da região.
Uma das principais diferenças entre uma floresta nacional e uma Área de Proteção Ambiental é que a primeira permite apenas a presença de populações tradicionais, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas. Já a APA admite maior grau de ocupação humana e existência de área privada. A alteração na área da Flona do Jamanxim visa principalmente atender ao projeto de construção da ferrovia Ferrogrão, que liga Sinop, em Mato Grosso, ao Porto de Miritituba, no Pará.
Entidade critica retrocesso

França vai vetar importação de produtos ligados ao desmatamento da Amazônia

Fonte: Rádio França Internacional-RFI 06/07/17

mediaLe ministre français de la Transition écologique et solidaire, Nicolas Hulot, présente sur «plan climatique» sur cinq ans, le 6 juillet 2017 à Paris..REUTERS/Charles Platiau
O ministro francês da Transição Ecológica, Nicolas Hulot, apresentou nesta quinta-feira (6) em Paris seu plano para o clima para os próximos cinco anos, que integra o acordo votado na Conferência de Paris, em dezembro de 2015, de luta contra o aquecimento global.
Em uma entrevista coletiva na sede do Ministério, Hulot declarou que as ações serão colocadas em prática paulatinamente. O ecologista anunciou que vai bloquear a importação de produtos florestais ou agrícolas que contribuam para o desmatamento no mundo, principalmente na Amazônia, no sudeste da Ásia e no Congo. Entre os principais itens estão o óleo de palma e soja. "Vamos colocar um fim ao desmatamento importado", ressaltou."Esta decisão é importante porque impede de incorporar esse tipo de óleo nos biocombustíveis", explicou.
O ministro ainda reafirmou o compromisso do país com a neutralidade de carbono. Até 2035, para cada grama de carbono emitida, a mesma quantidade deverá ser retirada da atmosfera.
Para isso, a diminuição da circulação de veículos é essencial. Até 2040, declarou o ministro francês, não haverá mais veículos a diesel e gasolina. A ideia é ajudar financeiramente a população mais modesta a trocar seu veículo tradicional por um carro elétrico.
Outras medidas envolvem o fim, até 2022, da produção de eletricidade a base de carvão, e de investimentos de cerca de € 4 milhões para lutar contra a “precariedade energética.” O preço da tonelada de carvão será superior a €100, disse. Até o final do outono, uma lei também será adotada para colocar um fim à autorização para exploração de petróleo e gás.
Nuclear e desmatamento
O ministro da Ecologia também anunciou que a redução de 50% da parte nuclear na produção de eletricidade até 2025 “é um objetivo que a França espera atingir”. “Meu desejo é dar início a um processo irreversível”, concluiu.

A AMAZÔNIA É MUITO MAIS DO QUE A GRANDE FLORESTA: TEM GENTE LÁ




Fonte: Revista Nexo em 05/07/2017
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A visão da Amazônia como objeto profícuo para o resto do país, criada e historicamente consolidada nas políticas públicas nacionais, retira dos territórios amazônicos o componente mais primordial e originário de qualquer ciclo de desenvolvimento: os recursos financeiros disponíveis na economia local

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Google lança plataforma interativa com histórias inéditas sobre Amazônia e 'transporta' internauta para floresta

Histórias do "Eu Sou a Amazônia" são contadas por comunidades indígenas e quilombolas
Fonte: noticiasR7.com 12/07/2017
Marta Santos, do R7
Ferramenta permite navegar pela floresta e conhecer histórias de tribos e comunidades locais
Ferramenta permite navegar pela floresta e conhecer histórias de tribos e comunidades locaisDivulgação
O Google lançou nesta terça-feira (11) uma nova ferramenta interativa que aproxima os internautas da Amazônia e faz com que cada um descubra suas próprias conexões com a floresta.
Dirigido pelo cineasta Fernando Meirelles, o projeto “Eu sou a Amazônia”, do Google Earth, apresenta 11 histórias contadas por comunidades indígenas e quilombolas da região, que abordam diferentes aspectos da vida na floresta, incluindo os desafios e as ameaças a esse ecossistema.
Por meio de textos, vídeos, fotos, mapas e realidade virtual em 360°, o projeto tem como objetivo mostrar como “a floresta faz parte da nossa vida é nós da dela”, explica o cacique Almir da tribo Suruí.
— A tecnologia do Google ajuda a criar um futuro melhor, a construir a consciência de que somos todos iguais. Nossa luta é para conscientizar o mundo e dizer "vamos juntos". A floresta não é patrimônio apenas do povo indígena, mas do brasileiro e do mundo todo.
Essas histórias são o resultado de um projeto que começou há dez anos, quando o cacique descobriu o Google Earth e viu seu potencial para proteger o legado e as tradições de seu povo. Almir propôs uma parceria ao Google, que resultou na criação do Mapa Cultural dos Suruí, o primeiro projeto liderado por um povo indígena para combater o desmatamento e mapear o estoque de carbono de suas terras.
Rogério Pereira, da Arqmo (Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná), conta que a plataforma também contribui muito para sua comunidade.
— Nós conseguimos ver como é o nosso território, explicar onde estão as aldeias, ter uma ideia melhor de quantas pessoas nós somos e onde essas pessoas estão. Além disso, podemos tentar encontrar locais em que esteja tendo extração ilegal [de recursos naturais].
O lançamento conta com o apoio do ator Cauã Reymond.
— O projeto fala sobre proteção do que é nosso, dos nossos recursos naturais e de como explorá-los de uma forma correta e que proteja a Amazônia. O Google está proporcionando as ferramentas para a gente dar continuidade a isso e eu fico muito feliz de participar desse projeto. 
“Eu sou a Amazônia” está disponível por meio do navegador Chrome e aparelhos Android, com tradução para português, inglês e espanhol. Para acessar a plataforma, entre em: g.co/EuSouAmazonia
Conheça um pouco sobre cada uma das histórias contadas:

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Viaturas do Ibama são incendiadas em emboscada entre Altamira e Novo Progresso, área de conflitos no Pará

Fonte: EcoDebate 08/07/2017

Dois caminhões-cegonhas que transportavam 16 viaturas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram alvo de uma emboscada entre Altamira e Novo Progresso, no sudoeste do Pará, perto da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim.
Segundo a Superintendência do Ibama no estado, cada caminhão-cegonha transportava oito veículos alugados para substituir parte da frota em uso. Nesta madrugada, ao parar em um posto de combustível da BR-163, próximo do distrito de Castelo de Sonhos, em Altamira, os caminhões foram atacados por pessoas ainda não identificadas.
O grupo pôs fogo em um dos caminhões, destruindo oito das viaturas, todas identificadas com a logomarca do Ibama. A ação policial impediu que o grupo ateasse fogo no segundo caminhão-cegonha.
Criada em 2006, a Flona do Jamanxim gtem 1,3 milhão de hectares (cada hectare corresponde às medidas aproximadas de um campo de futebol oficial). De acordo com o Ibama, a Flona integra a região mais crítica do desmatamento na Amazônia, em parte pela proximidade da BR-163. Há tempos a região é palco de conflitos entre madeireiros, garimpeiros, índios, ambientalistas e agentes do Estado.

É preciso interpretar a regeneração em terras desmatadas na Amazônia brasileira, aponta estudo

Fonte: EcoDebate 13/07/2017

desmatamento
 Segundo a análise, vegetação secundária precisa ser incorporada às políticas públicas do Brasil
O Climate Policy Initiative/ Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio (CPI/ PUC-Rio) lança, através doprojeto INPUT, um estudo que alerta para a necessidade de interpretar o crescimento da regeneração que ocorre em terras desmatadas na Amazônia brasileira – conhecida como vegetação secundária. A análise é um primeiro passo para auxiliar formuladores de políticas públicas a se atentarem para a regeneração florestal, a fim de promover uma política eficaz de conservação e de uso da terra.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), quase um quarto da área desmatada na Amazônia brasileira até 2014 continha indício de regeneração, totalizando 17 milhões de hectares de vegetação secundária. Apesar disso, a regeneração permaneceu invisível por muito tempo. Um dos motivos é uma característica dos atuais sistemas brasileiros de monitoramento e quantificação de desmatamento, que foram desenhados para detectar apenas vegetação primária.

Temer sanciona medida que regulariza a grilagem na Amazônia

Fonte: WWF Brasil 11/07/2017


O presidente Michel Temer sancionou nesta terça-feira (11) a Medida Provisória 759/2016.

Chamada de MP da Grilagem, a medida altera um conjunto de leis relacionadas à regularização fundiária em áreas urbanas e rurais do país, mas é sobre a Amazônia que o maiores – e piores – impactos deverão ser sentidos. E o aumento das taxas de desmatamento é um deles.

Para o WWF-Brasil, ao aprovar a MP, o governo envia para a sociedade um sinal de que vale a pena invadir terra pública na Amazônia, pois a anistia será a recompensa para quem se apropria do patrimônio público.

Para começar, a MP 759 – na forma do Projeto de Lei de Conversão 12/2017 – amplia a data limite de ocupação da terra e o tamanho da área. Quem ocupou ilegalmente até 2011 deverá ser beneficiado por meio de uma anistia sem precedentes.

Outro mimo dado pelo presidente é o benefício aos grandes invasores, pois fica permitida a regularização de propriedades com até 2,5 mil hectares. E neste caso, é evidente que não se trata de pequenos agricultores.

De quebra, a MP consolida em níveis mínimos o valor da terra para fins de regularização. A nova lei permite a cobrança de 10% a 50% do valor mínimo determinado pelo Incra.

Em recente artigo publicado no site do Observatório do Clima, a pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Brenda Brito, fez as contas e revelou que em alguns locais da Amazônia, como no Pará, um hectare de terra pode custar menos de R$ 50, segundo critérios da MP.

Um excelente negócio para quem vive de especular em terras públicas e uma garantia de que o crime compensa – e muito.

O pior é que o subsídio a ser dado aos grandes invasores na Amazônia vai custar caro aos cofres públicos, onerando ainda mais quem paga impostos no país, lembra a pesquisadora.

Desmatamento

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Produção sustentável pode gerar mais lucro do que o modelo convencional em MT


Fonte IPAM 05.07.2017 
Mato Grosso pode desenvolver uma economia rural sustentável até 2030, com um investimento de R$ 46 bilhões em 13 atividades, incluindo cadeias produtivas agropecuárias e a manutenção de áreas protegidas. A estimativa é um dos resultados do projeto “Unlocking Forest Finance” (UFF, na sigla em inglês, ou “destravando as finanças florestais”, em livre tradução), liderado pelo Global Canopy Programme e coordenado, no Brasil, pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA).
O objetivo do projeto é demonstrar que é possível aumentar a produção reduzindo o desmatamento, intensificando o uso do solo e melhorando a governança das áreas protegidas. Os resultados demonstram que os sistemas sustentáveis são economicamente viáveis e, na maioria dos casos, mais rentáveis que os sistemas tradicionais.
“No decorrer dos quatro anos de projeto, ajudamos o estado de Mato Grosso a pensar como estaria a produção e a conservação em 2030. Ao pensar em longo prazo, estimamos o custo de uma transição para um cenário mais sustentável”, explica o pesquisador do IPAM Marcelo Stabile, que coordenou o projeto no estado.
“A agropecuária é a principal atividade de Mato Grosso. Para permitir seu aumento enquanto as florestas naturais são preservadas, precisamos pensar em formas inovadoras de incentivar o uso do solo sustentável e fornecer financiamento adequado às necessidades dos produtores”, diz Simone Bauch, diretora para a América Latina do Global Canopy Programme.

Sobre o desmatamento na Amazônia, a Noruega e nosso patrimônio comum

Fonte:IPAM 27.06.2017
O anúncio na semana passada pelo governo da Noruega de que cortaria uma parte dos recursos que doa para o Fundo Amazônia não pegou o setor ambientalista de surpresa. Quem acompanha as flutuações do desmatamento da Amazônia sabe que, sendo o valor do repasse um reflexo direto da capacidade de o Brasil controlar a derrubada, a decisão seria tomada mais cedo ou mais tarde, mas ainda neste ano.
Isso porque, de acordo com as últimas medições do próprio governo, a taxa de desmatamento cresceu quase 30%. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, perdeu-se cerca de 8 mil quilômetros quadrados de floresta.
A situação é preocupante independente do prisma usado para analisá-la. É a maior alta dos últimos anos, após um esforço nacional hercúleo de se reduzir o desmate. Coloca-se em risco a capacidade de o país cumprir acordos internacionais de clima. Traz risco climático à própria produção no campo. Põe em xeque investimentos voltados a práticas sustentáveis. Faz mercados baseados em cadeias livres de desmatamento olharem com dúvidas para nossos produtos.
Mas, acima de tudo, a alta do desmatamento mostra que, a despeito do partido ou inclinação política que ocupa a Presidência, esse é um desafio que precisa ser tratado com prioridade para ser debelado – o que não tem acontecido.
Este não é campo para selvagerias partidárias. Cuidar das florestas, tratar bem o solo do país e respeitar acordos são, ou deveriam ser, uma questão nacional. Trata-se, em última instância, de um bem comum a todos os brasileiros, independente de sua ascendência, credo, posição social ou ideologia. Qualquer debate fora dessa esfera é infrutífero.
Precisamos, enquanto sociedade, manter os planos de combate ao desmatamento em alta em nossas consciências e preocupações. Turbilhões políticos e econômicos não ajudam neste intuito, mas em tais momentos as informações qualificadas e o debate sério servem como farol entre mares revoltos.
O IPAM, organização de pesquisa não governamental, apartidária e sem fins lucrativos, acredita e trabalha baseado em argumentos científicos, para que a Amazônia livre-se totalmente do desmatamento e que, dessa forma, o Brasil tenha condições de se posicionar como líder mundial de um novo tempo, em que os recursos naturais são considerados ativos e sua conservação, elemento fundamental do desenvolvimento.

CAR é insuficiente para coibir o desmatamento e estimular a regularização

Fonte: IMAZON 03.07.2017 
Uma análise liderada por pesquisadores brasileiros, publicada na edição desta semana da revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS), comprova que somente o registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR) é insuficiente para coibir novas derrubadas e estimular a recuperação de áreas já desmatadas na Amazônia.
O estudo, liderado por Andrea Azevedo, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), e Raoni Rajão, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), dentre outros pesquisadores e outras instituições, baseia-se na experiência de Mato Grosso e Pará. Os dois estados criaram sistemas de registro de imóveis rurais que serviram de inspiração para a criação do CAR nacional, em 2012.
O CAR é um instrumento oficial criado durante a reforma do Código Florestal que serve para facilitar o monitoramento de propriedades rurais, uma vez que seus limites passam a integrar um sistema nacional. Com o monitoramento e a possibilidade de enviar multas pelo correio sem necessidade de fiscalização no campo, acreditava-se que os proprietários iram se sentir mais vigiados e as taxas de desmatamento depois da entrada no CAR cairiam.
Porém, o estudo aponta que a maioria dos proprietários continuou a desmatar mesmo após entrar nos sistemas estaduais de CAR, sendo que em vários anos as derrubadas dentro do cadastro eram maiores do que nas propriedades que ainda não haviam aderido: nos primeiros anos de implementação, o cadastro demonstrou-se efetivo na redução do desmatamento nas pequenas propriedades, mas a demora da emissão de multas de infrações estimulou a volta da derrubada, até que o efeito positivo se perdeu.
“O CAR pode ser uma ferramenta fantástica para monitorar o cumprimento do Código Florestal, pois permite o uso de imagens de satélite que reduzem em muito o custo da fiscalização”, diz o professor Raoni Rajão, da UFMG. “Mas a preocupação do governo em incentivar a adesão ao CAR ,em detrimento do seu uso como instrumento de comando e controle, fez com que os produtores perdessem o medo de desmatar, mesmo dentro do cadastro. Hoje, o ganho com o desmatamento ilegal e a irregularidade é maior do que os benefícios para quem respeita a lei.”
Além de não inibir novas derrubadas, a adesão ao CAR nesses estados também não garantiu a recuperação das áreas desmatadas ilegalmente no passado. Segundo o estudo, 83% das propriedades rurais de Mato Grosso e 77% no Pará precisavam se adequar ao Código Florestal, com um passivo 841 mil hectares e 3,95 milhões de hectares, respectivamente, a serem restaurados.
Cadastro Ambiental Rural em MT e PA em 2013.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Floresta amazônica, resiliência ou colapso? Pesquisa investiga o ecossistema frente à oferta extra de gás carbônico


Fonte: EcoDebate 03/07/2017
Texto Manuel Alves Filho
Fotos Antoninho Perri | João Marcos Rosa | AmazonFace
Edição de imagem Luis Paulo Silva

Nos anos iniciais da escola, aprendemos que as plantas realizam o processo de fotossíntese para produzir a energia necessária à sua sobrevivência. Dito de maneira simplificada, elas utilizam o gás carbônico (CO2) da atmosfera e a luz do sol para produzir glicose, espécie de açúcar que garante suas atividades vitais. De quebra, enquanto produzem glicose, as plantas devolvem oxigênio para o ambiente. Esse processo é tão importante que, sem ele, não haveria vida na Terra, dado que tais organismos estão na base da cadeia alimentar do homem e dos animais. Mas se o CO2 é tão importante para a fotossíntese, o que aconteceria se as plantas recebessem uma dose extra desse gás? Elas se tornariam mais produtivas? As respostas a estas e outras perguntas estão sendo investigadas por um grupo formado por cientistas brasileiros e estrangeiros, que participam do programa AmazonFACE, financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
David Lapola, pesquisador do Cepagri-Unicamp, preside o Comitê Científico do AmazonFACE: “Nosso objetivo é obter dados que possam refinar a predição sobre o futuro da floresta, de modo a oferecermos subsídios para a tomada de decisões por parte das autoridades públicas”Foto: Antoninho Perri
David Lapola, pesquisador do Cepagri-Unicamp, preside o Comitê Científico do AmazonFACE: “Nosso objetivo é obter dados que possam refinar a predição sobre o futuro da floresta, de modo a oferecermos subsídios para a tomada de decisões por parte das autoridades públicas”
O AmazonFACE nasceu da iniciativa de um grupo de cientistas, entre eles o ecólogo David Montenegro Lapola, recentemente contratado como pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp. Lapola é o atual presidente do Comitê Científico do programa. De acordo com ele, a principal questão trabalhada pelo grupo é: até que ponto a fertilização proporcionada pela oferta extra de CO2 pode aumentar a resiliência de uma floresta, no caso a amazônica, num contexto de mudanças climáticas, no qual ocorrem aumento de temperatura e alteração no regime de chuvas? “É a primeira vez que a ciência busca, numa região tropical, resposta para esta pergunta”, assinala Lapola. Segundo ele, experimentos assemelhados foram realizados em florestas temperadas, nos Estados Unidos e Europa, que obviamente apresentam características distintas da floresta amazônica. Em terras brasileiras, foram feitos dois experimentos do gênero, mas em menor escala e voltados para cultivos agrícolas.

terça-feira, 27 de junho de 2017

De carros a gado: o polêmico agronegócio da Volkswagen na Amazônia

Fonte: Carta Maior 26/06/2017

Em 1973, montadora alemã, com apoio do regime militar, iniciou projeto para criar o "gado do futuro" na Floresta Amazônica

dw.com
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Uma fazenda-modelo para criar o "gado do futuro" e resolver parte do problema mundial da fome era o grande plano da montadora alemã Volkswagen em sua estratégia de ramificação de negócios no Brasil. Ao receber uma oferta do regime militar para participar do projeto de desenvolvimento da Amazônia, a empresa não perdeu a oportunidade de investir no agronegócio.
O projeto que, na década de 1970, parecia um ótimo investimento, com lucros garantidos, tornou-se, poucos anos, depois um pesadelo para o grupo alemão. Além de enfrentar acusações de ambientalistas sobre o desmatamento, a empresa se viu envolvida num escândalo sobre a exploração de trabalhadores em suas terras.
"Todas essas polêmicas que aconteceram na fazenda da montadora nos anos 1970 e 1980 ajudaram a construir a Amazônia como um espaço político nacional e internacional. A Volks acabou se tornando um símbolo da invasão da Amazônia por grandes empresários e grupos locais e estrangeiros", afirma o historiador Antoine Acker, cujo livro Volkswagen in the Amazon: The Tragedy of Global Development in Modern Brazil será lançado em julho.
Acker acrescenta que, apesar de a montadora alemã não ser a única que desmatava a região, ela era o nome mais conhecido. "Por isso, o escândalo da Volkswagen foi uma oportunidade para que muitas associações, partidos políticos e ativistas chamassem a atenção internacional para a Amazônia", ressalta.

"Integrar para não entregar"
Apesar de tentativas de desenvolvimento da Amazônia ocorrerem desde o final do século 19, com os ciclos de exploração da borracha, somente após o golpe militar de 1964 foi posto em prática um plano extensivo para a ocupação e "modernização" da região.
Com o lema "integrar para não entregar", o regime militar fez do desenvolvimento da Amazônia uma de suas prioridades. Para isso criou a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), responsável por colocar em prática essas ideias e administrá-las, além de buscar investidores interessados em negócios na região.
Mesmo propagando o discurso de proteger a Amazônia para evitar sua internacionalização, os militares faziam vista grossa, e até promoviam, investimentos estrangeiros na região. Nesse contexto surgiu a fazenda-modelo da Volkswagen no sul do Pará.
Na época, duas versões sobre o pontapé inicial da iniciativa circularam. No Brasil, divulgava-se que a empresa alemã e principalmente seu presidente no Brasil, Wolfgang Sauer, faziam questão de cooperar com o projeto de colonização da Amazônia.
Na Alemanha, para conquistar o aval do conselho de administração, o presidente do grupo na época, Rudolf Leiding, alegou que o negócio foi um pedido do regime militar. Mesmo sem consultar o conselho, ele havia comprado parte do terreno onde seria a fazenda em 1973.
"Na reunião do conselho, a compra acabou sendo validada, pois já havia ocorrido. Como não conhecia muito bem a situação brasileira, o conselho simplesmente aprovou porque não sabia do que se tratava. Leiding tentou explicar que a Volkswagen teria muito lucro se investisse na Amazônia", disse Acker.

Nessa controvérsia surgiu a Companhia Vale do Rio Cristalino (CVRC) e, com ela, os planos da montadora de exportar o gado produzido no Brasil para Europa, Japão e Estados Unidos.
Entre 1974 e 1986, Volkswagen criou gado no sul do Pará
Entre 1974 e 1986, Volkswagen criou gado no sul do Pará

Fazenda de alta tecnologia