sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Artigo do Cortella

Fonte: 
Portal HSM 
17/10/2012

Depois de longa ausência, um artigo do Cortela.


Vida e carreira: um equilíbrio possível?

Gosto demais do que um dia escreveu o britânico Beda, o Venerável, lá no século VIII: "Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe; não praticar o que se ensina; não perguntar o que se ignora". 


Por isso, uma carreira a ser "turbinada" exige a capacidade de "ensinar o que se sabe", isto é, ter permeabilidade e ser reconhecido como alguém que reparte competências, de modo a fortalecer a equipe e demonstrar ambição (querer mais) em vez de ganância (querer só para si, a qualquer custo). 

É necessário também "praticar o que se ensina", de forma a deixar clara a coerência de postura, o equilíbrio entre o dito e o feito, e a disposição para assumir com segurança aquilo que adota como correto. 

Por fim, o mais importante, "perguntar o que se ignora", pois corre perigo aquele ou aquela que não demonstrar que está sempre em estado de atenção (em vez de estado de tensão) para ampliar capacidades e assumir a humildade (sem subserviência) de compreender e viver aquilo que Sócrates, na Grécia clássica, nos advertiu: "só sei que nada sei", ou seja, só sei que nada sei por inteiro, só sei que nada sei que só eu saiba, só sei que nada sei que não possa ainda vir a saber. 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

BNDES promove seminário no Nordeste para debater desenvolvimento regional. E a Amazônia?


Mais uma vez o BNDES demonstra seu entendimento de que somente a região nordeste merece atenção e cuidados em relação ao planejamento, ações  e eventos voltados para a temática do desenvolvimento regional no Brasil. A constatação disso se revela, entre outras coisas, observando a participação do presidente do BNDES Luciano Coutinho nas reuniões do Conselho Deliberativo da SUDENE, reuniões relativamente frequentes com  vários governadores do nordeste juntos,  com a bancada Federal do Nordeste, além das visitas dele aos estados nordestino. Já em relação a Amazônia, embora o BNDES possua assento no CONDEL da SUDAM, o presidente ou mesmo um diretor nunca participam. Reunião com governadores ou bancada federal também nunca houve. O governador do norte para reunir com o presidente do BNDES, só se deslocando ao Rio de Janeiro.
A ausência (e a falta de vontade em instalar uma) de uma representação do BNDES na Amazônia, contribui, e muito, para esse quadro de desvalorização do relacionamento da instituição com a região, até pela falta de uma compreensão na identificação dos interlocutores locais para alavancar o diálogo. 
Outro componente forte é o desinteresse pelo desenvolvimento da região, pelo menos nos moldes da economia tradicional existente. O discurso seguido é que se precisa criar uma nova economia para a região, que seja plenamente sustentável, o que eu concordo em gênero, número e grau. Porém  essa nova economia ainda não existe e é necessário um grande esforço de planejamento do desenvolvimento e a participação efetiva do estado e suas instituições pensantes (aí o BNDES é fundamental), o que ainda não existe. Ai vemos a acomodação que gera o imobilismo. Enquanto isso a economia real e tradicional existente na Amazônia precisa atender os 25 milhões de pessoas que aqui habitam e que precisam de da presença de um órgão financiador de projetos estruturantes que melhorem qualitativamente essa economia e faça com que ela possa caminhar em direção a sustentabilidade desejada por todos.
  
Fonte: BNDES 26/09/2012
O BNDES promove nesta sexta-feira, 28, o seminário Desenvolvimento regional: avaliação, desafios e perspectivas para o Nordeste. O evento integra as comemorações pelo 60 anos do Banco, completados no último dia 20 de junho, e acontece no auditório do JCPM Trade Center, no Recife.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, participa da mesa de encerramento do seminário, junto com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e o presidente do BNB, Ary Joel Lanzarin. Também foram convidados os nove governadores de Estado da Região. O evento tem início às 8h45, com o diretor da Área Industrial do BNDES, Julio Ramundo, o diretor do BNB Stelio Gama Junior e o presidente da FIEPE, Jorge Corte Real. Ao longo do dia, quatro mesas abordarão temas como criatividade e inovação, superação da pobreza, financiamento para a infraestrutura e perspectivas para o Nordeste.

Soja e florestas no Arco de Desmatamento do Brasil: Uma trégua temporária?



Estando correta a análise abaixo, seria salutar seguir de uma forma mais sistema as indicações de, principalmente, novas políticas de incentivos ao uso eficiente de áreas degradadas e e aplicação de medidas anti-desmatamento. Assim conseguiríamos minimizar um  pouco  o conflito entre a exploração do uso dos recursos e a conservação do maio ambiente, sem esquecer é claro a necessidade contínua de forte fiscalização nas áreas de uso intenso da monocultura, para também reduzir e controlar os problemas causados pelos insumos utilizados, de maneira especial os agrotóxicos.
Fonte: IPAM 17/09/2012
Análise de Christine Padoch para o site do CIFOR sobre estudo do IPAM.
Com a demanda global por commodities como o óleo de palma, a soja e a carne rapidamente aumentando e a oferta de terras utilizáveis diminuindo, as florestas conseguirão sobreviver? Será que os crescentes bilhões de habitantes do planeta poderão ser bem alimentados, bem vestidos e abrigados sem que se destruam as florestas tropicais? Um novo artigo escrito por cientistas de diversas instituições dos Estados Unidos e do Brasil sugere que ações que promovem o uso mais eficiente de terras agrícolas juntamente com medidas anti-desmatamento - podem ter dado resultados positivos onde já foi a área mais notória de perda de florestas: o infame "Arco do Desmatamento" na fronteira sul da Amazônia brasileira.
Ao focar seus estudos nas tendências mais recentes em produção de soja e mudanças na cobertura florestal no estado do Mato Grosso, Marcia Macedo e seus colaboradores mostram que a relação aparentemente inevitável entre crescimento agrícola e perda da floresta pode ser quebrada, e as metas de preservação ambiental, de mais comida, fibras e combustível podem ser alcançadas simultaneamente.
Os autores focaram sua pesquisa no Mato Grosso no período 2006-2010, quando o estado fronteiriço reduziu notoriamente sua elevada taxa de desmatamento para apenas 30% do que tinha sido ao longo da década anterior. Nos mesmos  cinco anos, a produção agrícola no Mato Grosso alcançou altas na produtividade sem precedentes.
Macedo e seus colaboradores utilizaram a combinação de dados de sensoriamento remoto e informações estatísticas sobre mudanças na cobertura florestal e produção agrícola recolhidos pelo Governo brasileiro. Eles descobriram que enquanto 78% dos aumentos na produção de soja em 2006-2010 foram devido à expansão agrícola em novas áreas (Mato Grosso lidera todos os Estados brasileiros em produção de soja), 91% daquela expansão ocorreu integralmente em terras que já haviam sido desmatadas anteriormente, em sua maioria antigas pastagens. Outros 22% do aumento em produção de soja foi devido ao maior rendimento por área. Assim, a expansão não exigiu novas incursões sobre as florestas.
Os autores também destacam que o declínio do desmatamento “coincide com o colapso dos mercados de commodities”, e que no mesmo período políticas para redução do desmatamento foram implementadas. Esta última mudança sugere que não foi apenas a crise financeira que estimulou uma desaceleração no desmatamento . De fato, a rentabilidade no setor de soja do Mato Grosso depois voltou para níveis anteriores a 2006, mas o desmatamento continuou a cair, indicando que "medidas anti-desmatamento podem ter influenciado o setor agrícola". Estes dados são muito promissores de fato, mas eles também levam a diversas questões importantes que os autores tentam abordar.
Uma das preocupações é o "vazamento", ou a possibilidade de que o desmatamento evitado em Mato Grosso possa simplesmente ter se transferido para outros lugares. Macedo et al. encontraram poucas evidencias de “vazamento direto da expansão da soja” em regiões altamente ameaçadas próximas do Cerrado do Mato Grosso, e durante aquele período os níveis de desmatamento em diversas áreas vizinhas de estados ricos em florestas da Amazônia brasileira também caíram. Mas os autores alertam que não se pode descartar a possibilidade de que não tenham sido detectadas “mudanças por uso indireto da terra e fuga para regiões mais distantes”. 
A outra questão é, claro: será que a agricultura poderá se expandir sem mais desmatamentos no Mato Grosso e em outros estados? De acordo com os autores, algumas mudanças recentes sugerem que provavelmente sim. O Governo brasileiro tem investido bastante em monitoramento e na aplicação de medidas anti-desmatamento, e tanto o governo como alguns grupos industriais têm “criado desincentivos para a expansão floresta adentro”. Mas para manter as reduções no desmatamento em meio à expansão da economia agrícola no Brasil, os autores advertem, que serão necessárias novas políticas de incentivos ao uso eficiente de áreas degradadas, especialmente na medida em que o desenvolvimento da infraestrutura da região torna as regiões de florestas remanescentes mais acessíveis, e que as novas tecnologias tornam seu uso mais lucrativo.
As advertências dos autores são oportunas.  Relatórios mais recentes da região indicam que um novo aumento nas taxas de desmatamento pode já estar em curso, e os efeitos da controversa revisão do Código Florestal proposta no Brasil permanecem incertos. É difícil prever quais serão as pressões do  próximo  boom no preço das commodities agrícolas sobre as  áreas de floresta remanescente  nos trópicos.     
Está claro, entretanto, que as sociedades e governos terão que considerar cuidadosamente estratégias e incentivos políticos apropriados, específicos, e multifacetados se pretendem  equilibrar as pressões econômicas com a necessidade de preservar as florestas e seus múltiplos serviços. Neste artigoMacedo et al.  foram bem sucedidos em mostrar que esse equilíbrio pode ser alcançado em pelo menos um lugar (e por enquanto).
Artigo originalmente publicado no site do CIFOR
Mais informações:
Macedo, M.N., DeFries, R.S., Morton, D.C., Stickler, C.M., Galford, G.L. and Shimabukuro, Y.E. 2012Decoupling of deforestation and soy production in the southern Amazon during the late 2000s. Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), doi: 10.1073/pnas.1111374109
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*Christine Padoch é antropóloga e, atualmente, diretora do Programa Forests and Livelihoods do Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR – sigla em inglês). Passou mais de 35 anos realizando pesquisas sobre os padrões de manejo florestal relacionados a pequenos produtores, agricultura e agroflorestal nos trópicos úmidos, principalmente na Amazônia e no Sudeste Asiático. Foi curadora do Instituto de Botânica Econômica do New York Botanical Garden. Padoch é Ph.D. em Antropologia pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Projeto cria política nacional de produção e consumo sustentáveis

Projeto interessante, que marca a importância do tema, mas se aprovado corre o risco de ficar no papel ou demorar muito para "decolar" como tantas outras políticas nacionais, como a PNDR e PNRS. Mais é importante para avançar no tema.

Fonte: Agência Câmara de notícias 26/09/2012
Jandira Feghali: é preciso haver eficiência na produção e novos padrões de consumo.A Câmara analisa o Projeto de Lei 3899/12, da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que institui a Política Nacional de Estímulo à Produção e ao Consumo Sustentáveis. O objetivo é criar incentivos para a adoção de práticas de consumo e produção ecológica e economicamente sustentáveis.
Segundo a proposta, as regras serão articuladas com a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97), a Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei 12.187/09) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10).
O projeto lista uma série de conceitos, princípios, diretrizes, instrumentos e objetivos. Entre esses últimos estão:
– proteger a saúde pública e preservar e melhorar a qualidade ambiental;
– criar mecanismos de fomento à produção e ao consumo sustentáveis;
– estimular os consumidores a escolher produtos que sejam produzidos com base em processos ecologicamente sustentáveis;
– promover a redução do acúmulo de resíduos sólidos, por meio da implantação da logística reversa;
– incentivar a indústria da reciclagem e o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;
– dar prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, a produtos reciclados e recicláveis; e a bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis.
Selo
Para estabelecer os instrumentos necessários à implementação da política, a proposta cria o Selo Nacional de Produção e Consumo Sustentáveis. O selo servirá para estimular práticas de produção e consumo sustentáveis e desestimular o consumo de bens e serviços que não atendam aos princípios da sustentabilidade ambiental e da equidade social.
“A Política Nacional de Estímulo à Produção e ao Consumo Sustentáveis não apenas complementa o esforço do Poder Executivo, mas também cria instrumentos relevantes para que os objetivos do desenvolvimento sustentável sejam alcançados rapidamente”, afirma a deputada.
O texto estabelece diversos critérios para a concessão do selo, como a possibilidade de reciclagem, reutilização e retorno dos bens produzidos e a existência do sistema de logística reversa.
O selo deverá ser concedido por instituição credenciada pelo órgão federal competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro), conforme critérios estabelecidos conjuntamente pelos seus órgãos consultivos.
Segundo o projeto, o selo será concedido por tempo determinado, podendo ser prorrogado a critério da entidade credenciadora.
Além do selo, o texto prevê outros instrumentos para a implementação da política: incentivos fiscais, financeiros e creditícios; pagamento por serviços ambientais; e investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Incentivo
De acordo com o projeto, até o dia 31 de dezembro de 2016, a indústria que obtiver o selo de produção sustentável – e que o mantenha durante todo o período de apuração – poderá receber desconto de 10% do Imposto de Renda correspondente à parcela do lucro proporcional ao faturamento obtido com a venda dos produtos classificados com o selo de produção e consumo sustentáveis, em relação ao faturamento total. Esse benefício terá que ser regulamentado por lei específica.
“A fim de atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável, é necessário eficiência na produção e mudanças nos padrões de consumo, com prioridade ao uso ótimo dos recursos e à redução do desperdício”, acrescenta Jandira Feghali.
Reciclagem
Também poderá receber benefícios a pessoa jurídica que exercer, de maneira preponderante, a atividade de reciclagem de resíduos sólidos ou atividades relacionadas às suas etapas preparatórias. Nesse caso, a empresa poderá receber os seguintes benefícios:
– redução a zero das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados, previstas na Tabela de Incidência do IPI (TIPI), incidente sobre a aquisição ou importação de máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos, assim como acessórios sobressalentes e ferramentas que os acompanhem, destinados à reciclagem de resíduos sólidos e ao seu aproveitamento como fonte geradora de energia;
– crédito presumido do IPI, calculado pela aplicação, sobre o valor do imposto devido, de coeficiente proporcional ao grau de utilização de matéria-prima reciclada em cada produto.
Há punições às empresas que deixarem de fazer jus aos benefícios. Já a falsificação ou adulteração do selo deverão ser punidas com detenção de até seis meses e multa.
Tramitação
O projeto será votado por uma comissão especial e pelo Plenário.

Reportagem – Rodrigo Bittar
Edição – Pierre Triboli



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Prêmio Ig Nobel 2012


Para os militantes na área acadêmica, um reconhecimento não muito desejado. Vale a pena tomar conhecimento.

Fonte: Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/09/2012

Foram anunciados ontem, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, os ganhadores do Prêmio Ig Nobel de 2012.
O objetivo do evento, segundo seus organizadores, é destacar pesquisas científicas que primeiro nos fazem rir, para depois nos fazer pensar.
O grande destaque deste ano foi para uma pesquisa que cumpre bem esse objetivo: cientistas demonstraram que um salmão morto é capaz não apenas de reconhecer emoções humanas olhando para fotografias, como também mostraram a parte do cérebro do animal responsável por essas emoções.
O trabalho é uma crítica contundente à proliferação de estudos na área das neurociências que atribuem emoções, comportamentos e funções em geral a partes específicas do cérebro.
Segundo Craig Bennett e seus colegas, esses estudos têm duas marcas registradas: o uso de um exame chamado ressonância magnética funcional (fMRI) e de uma técnica estatística que permite tirar virtualmente qualquer conclusão.
O método estatístico é tão frágil que eles conseguiram tirar todas as conclusões do seu trabalho maluco observando o cérebro de um salmão morto.
Ganhadores do Ig Nobel 2012
Acústica
Kazutaka Kurihara e Koji Tsukada (Japão) pela criação do SpeechJammer, uma máquina "embaralhadora da fala", que interrompe a fala de uma pessoa, fazendo-a ouvir suas próprias palavras faladas em um pequeno atraso.
Anatomia
Frans de Waal (Holanda/EUA) e Jennifer Pokorny (EUA) por descobrir que os chimpanzés podem identificar outros chimpanzés individualmente olhando fotografias de seus traseiros.
Dinâmica dos Fluidos
Rouslan Krechetnikov (EUA/Rússia/Canadá) e Hans Mayer (EUA) por estudar o movimento do café na xícara quando uma pessoa anda com ela na mão.
Física
Joseph Keller (EUA), Raymond Goldstein (EUA/Reino Unido), Patrick Warren e Robin Ball (Reino Unido) pelo cálculo do equilíbrio de forças que modela e movimenta o cabelo humano em um penteado rabo-de-cavalo.
Keller recebeu ainda um Ig Nobel retardatário, por um trabalho de 1999, sobre bules de chá que não pingam.
Literatura
Escritório de Controladoria do governo dos EUA pela publicação de um relatório a respeito dos relatórios sobre relatórios. O novo relatório recomenda a elaboração de um relatório sobre o relatório sobre os relatórios sobre relatórios.
Medicina
Emmanuel Ben-Soussan e Michel Antonietti (França) por elaborar recomendações para os médicos que realizam colonoscopias sobre como minimizar a chance de que seus pacientes explodam.
Neurociências
Craig Bennett, Abigail Baird, Michael Miller, e George Wolford (EUA) por demonstrar que os pesquisadores do cérebro, usando instrumentos complicados e estatística frágil, podem ver atividades cerebrais significativas em qualquer lugar - mesmo no cérebro de um salmão morto.
Paz
Para a empresa SKN (Rússia), pela conversão de munição russa velha em diamantes novos.
Psicologia
Anita Eerland e Rolf Zwaan (Holanda) e Tulio Guadalupe (Peru/Rússia/Holanda) pelo seu estudo mostrando que, quando uma pessoa se inclina para a esquerda, a Torre Eiffel parece menor.
Química
Johan Pettersson (Suécia) por resolver o enigma de por que, em certas casas na cidade de Anderslöv, na Suécia, o cabelo das pessoas ficou verde: por causa do cobre liberado pelos canos.
Prêmio Nobel verdadeiro
Já se tornou tradição que o Ig Nobel preceda os anúncios do autêntico Prêmio Nobel, que ocorre no início de Outubro de cada ano.
Veja as datas de anúncio do Prêmio Nobel:
  • Fisiologia ou Medicina - 08 de outubro - Segunda-feira
  • Física - 09 de outubro - Terça-feira
  • Química - 10 de Outubro - Quarta-feira
  • Paz - 12 de Outubro- Sexta-feira
  • Ciências Econômicas - 15 de Outubro - Segunda-feira
  • Literatura - Data ainda não definida
Outras tradições do Ig Nobel são a presença de ganhadores do Prêmio Nobel "verdadeiro", uma garota que começa a gritar no palco se os ganhadores fazem discurso muito longos e os aviõezinhos de papel atirados pela plateia durante o evento.
Em 2008, dois cientistas brasileiros ganharam o Ig Nobel de Arqueologia, por mostrar o impacto dos tatus no movimento dos materiais arqueológicos

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Castanhais podem ser resultado da ação de populações indígenas antes da colonização europeia


Tomo há muito, como verdadeira essa hipótese agora reforçada pelo estudo apresentado, pois sempre considerei os elementos como a concentração de frutíferas, a terra preta de índio e as alterações da flora por conta das queimadas praticadas pelos nossos ancestrais. Eles conseguiram alterar a configuração das florestas, em números ou percentuais que variam conforme o autor dos estudos, mas que a mim parece serem significantes dentro do imenso "mar vegetal" no qual estamos envolvidos.

Castanhais podem ser resultado da ação de populações indígenas antes da colonização europeia
 
Castanheira na floresta amazônica: influência humana pode explicar disseminação (Fábio Colombini)
A distribuição das castanheiras na região amazônica é motivo de controvérsia há várias décadas. Como o fruto que contém a semente é duro e de difícil dispersão, os especialistas não entendiam exatamente como existem castanhais – áreas densamente ocupadas por árvores da espécie Bertholletia excelsa – em toda a Amazônia. Uma das explicações mais antigas dizia que roedores como a cutia e aves como a arara eram responsáveis pela disseminação da semente. Agora dois trabalhos recentes vêm reforçar outra tese: grande parte das árvores da castanha-do-pará teria sido cultivada e mantida por indígenas antes da ocupação europeia no continente. O primeiro estudo baseou-se nas atividades humanas na floresta; o segundo em análises genéticas e até linguísticas sobre os idiomas indígenas.
Ricardo Scoles, da Universidade Federal do Oeste do Pará, e Rogério Gribel, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), fizeram um dos trabalhos. Eles partiram do pressuposto de que a intensidade das ações dos antigos habitantes da região nos castanhais deixou uma “assinatura” na população de árvores que pode ser identificada. E compararam castanhais da região do rio Trombetas com os das vizinhanças do rio Madeira. A primeira área era bastante ocupada por indígenas antes do descobrimento do país, mas depois sua população caiu drasticamente no século XVI. Já a segunda região teve a ocupação humana preservada mesmo após a colonização portuguesa.
As diferenças encontradas foram marcantes. Enquanto os velhos castanhais tinham mais árvores antigas e menos sementes disponíveis para novas germinações, os que tiveram a presença constante de seres humanos eram, em geral, mais jovens e produtivos.
“Os dados apoiam a ideia de que os castanhais, mesmo os que são considerados floresta prístina [primária] e ‘nativa’, resultam de influências antropogênicas”, escreveram os pesquisadores em artigo publicado na revista Human Ecology. “Para nós, a concentração de castanhais na Amazônia é explicada pelo manejo tradicional da paisagem amazônica, especialmente no período pré-colonial”, afirma Scoles. “A modo de exemplo, as estimativas de idade média das árvores de castanheira a partir dos anéis de crescimento em muitos castanhais da região do rio Trombetas coincidem com a época de diminuição das populações humanas nativas da Amazônia.”
As árvores que dão origem à castanha-do-pará não raro têm 400 anos e há relatos de exemplares com mais de um milênio de vida. A primeira sugestão de que os castanhais tenham sido criados e mantidos por antigos povos amazônicos veio do botânico e etnólogo ítalo-brasileiro Adolpho Ducke (1876-1959), em 1946. Outros voltaram a defender ou a atacar essa tese nas últimas décadas.
Os frutos da castanheira, que contêm as cobiçadas sementes, por serem difíceis de abrir não parecem ter um mecanismo simples de dispersão. Deixados aos seus próprios meios, os frutos teriam dificuldade até mesmo para se espalhar por uma área pequena, que dirá por toda a floresta. O primeiro a descrever o fenômeno foi o suíço Jacques Huber, em 1910. Outro estudioso desse tema é o paraense Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido. Biólogo ambiental renomado, em 1997 ele reforçou essa ideia indicando que a cutia, roedor comum na floresta amazônica, com seus dentes afiados, poderia dar o empurrão que a castanheira precisa para se multiplicar.
Peres observou o comportamento desses animais e viu que eles conseguiam abrir o fruto e colher as sementes. Uma em cada quatro delas era consumida no próprio local, mas a maior parte das restantes as cutias enterravam para comer mais tarde. Há de se presumir que nem todas as sementes enterradas seriam recolhidas depois, ganhando a possibilidade de germinar e dar origem a uma nova castanheira. Para Peres, essa demonstração era suficiente para explicar a origem dos castanhais.
Contudo, um enigma ainda permanecia: como a árvore conseguiu se espalhar por tantas regiões da floresta de forma tão marcante? Para alguns pesquisadores, mecanismos naturais não são suficientes, e só mesmo a ação de populações humanas daria conta do fenômeno. Para dar ainda mais suporte a essa hipótese, Glenn Shepard Jr., do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), e Henri Ramirez, da Universidade Federal de Rondônia (Ufro), fizeram um levantamento multidisciplinar que deixa poucas dúvidas e no qual tiveram a colaboração de Rogério Gribel, do Inpa. Eles colheram evidências que vão desde a biologia, com análises genéticas das populações de castanheiras, até a linguística, correlacionando diversos idiomas indígenas para decifrar a importância histórica da castanha para as populações da região.
Uma das revelações mais importantes vem da análise do DNA, feita por Rogério Gribel e Maristerra Lemes, do Inpa, e colaboradores. Ao comparar as populações de árvores em todas as partes da Amazônia, notou-se que há grande homogeneidade, ou seja, poucas diferenças genéticas de local para local. Isso indica que o espalhamento geográfico da castanha-do-pará se deu rapidamente e em uma época relativamente recente, o que torna mais complicado imaginar um mecanismo natural para sua dispersão.
 “As cutias podem explicar a distribuição espacial concentrada dos indivíduos de castanheira dentro dos castanhais”, diz Scoles. “O que é impossível de entender é como esses roedores, sem ajuda humana, podem explicar a distribuição pan-amazônica de Bertholletia excelsa. A dispersão da cutia é altamente ineficiente e de curta distância. Além disso, como esses roedores poderiam atravessar os grandes rios com sementes na boca?”
Outros animais que também comem castanhas, como as araras, poderiam ajudar nessa dispersão de meia distância, algo em que Scoles não acredita. “Geralmente as araras estragam a produção de frutos porque os comem antes de estarem maduros”, diz. Ainda assim, além de o fenômeno não ter sido suficientemente documentado, ele parece mais complicado do que imaginar que para os indígenas do passado pode ter sido interessante consumir e plantar castanhas-do-pará. “Para nós, é mais fácil explicar a distribuição em grande escala pela dispersão humana voluntária e/ou involuntária em tempos pretéritos”, conclui Scoles.
Uma comparação feita por Shepard e Ramirez entre a distribuição geográfica das castanheiras e a das sapucaias mostrou que a área de distribuição da sapucaia contém várias espécies geograficamente distintas, indicando uma história evolutiva mais profunda e processo de dispersão mais longo. “Já a castanha apresenta uma única espécie na Amazônia inteira, indicando uma história mais recente”, diz Shepard. A sapucaia é parecida com a castanheira, mas tem frutos que facilitam a dispersão das sementes.
Além disso, enquanto populações de sapucaias mostram pequenas variações genéticas em dezenas de quilômetros, as castanheiras não apresentam nenhuma variação em milhares de quilômetros por toda a Amazônia. O que levou os pesquisadores a pensar que há vários mecanismos diferentes agindo para formar as duas populações de árvores.
Linguística
Um dos aspectos mais interessantes do estudo de Shepard e Ramirez é o uso de comparações linguísticas para tentar identificar a importância de certos elementos na cultura dos povos do passado. Os próprios autores são cautelosos na análise dessas informações, mas ainda assim apresentam dados interessantes. Comparando os termos usados pelas três maiores famílias de idiomas amazônicos nos locais em que há castanhais, denominadas Arawak, Carib e Tupi, os pesquisadores puderam notar que, de forma geral, é possível identificar uma origem comum para uma palavra que designe a castanha nas duas primeiras, mas não na terceira. Para os falantes de idiomas da família Tupi, o mais comum é vê-los se referindo à semente por meio de uma palavra “emprestada” de outra língua.
Correlacionando esses dados linguísticos, Shepard e Ramirez acreditam que a castanha-do-pará se tornou um elemento importante da cultura indígena principalmente durante o primeiro milênio d.C., coincidindo com a adoção de agricultura mais intensa e um estilo de vida mais sedentário por parte das populações nativas.
Sobre a origem da Bertholletia, a análise linguística parece corroborar estudos genéticos que sugerem que a árvore surgiu na região norte ou central da Amazônia, para depois se espalhar (ou ser cultivada) a oeste e ao sul. Isso ajudaria a explicar por que não há uma palavra específica nas raízes do Tupi para ela, uma vez que esse tronco linguístico parece ter surgido no sul da floresta, onde hoje fica o estado de Rondônia. Isso também pode dar alguma explicação para o fato de que sítios arqueológicos rondonienses de 4 mil anos de idade, embora estejam em locais onde hoje há importantes castanhais, não têm nenhum sinal de consumo antigo de castanhas.
Apesar das evidências, nenhum dos defensores da hipótese antropogênica dos castanhais afirma que o debate está superado. “A confirmação definitiva seriam evidências arqueológicas e arqueo-botânicas mostrando, por exemplo, a aparição de restos de castanha em sítios arqueológicos a partir de uma determinada data”, ressalva Shepard.
“O arqueólogo rondoniense Eurico Miller me disse que achava estranho não encontrar restos de castanha em sítios arqueológicos antigos em Rondônia, onde hoje tem bastante castanha na superfície”, conta Shepard. “Teria de se confirmar essa observação pessoal do Miller com evidências mais concretas e tentar determinar a data em que a castanha ‘entra’ nos restos arqueobotânicos para Rondônia e outras regiões.”
De acordo com Ricardo Scoles, duas linhas de pesquisa podem também dar fim ao grande enigma. A primeira seria um esforço de correlacionar dados de distribuição geográfica da castanheira com a presença de sítios arqueológicos e a chamada “terra preta de índio” – indício de agricultura por esses povos nativos em tempos passados. A ideia é demonstrar que onde havia ocupação antiga também havia a formação de castanhais.
Outra confirmação pode vir de estudos genéticos das variedades da espécie, que permitam determinar de forma mais precisa como e quando se deu o espalhamento da Bertholletia pelo território amazônico. Segundo Scoles, ambas as linhas de pesquisa já estão sendo perseguidas por pesquisadores do Inpa. “Creio que elas darão resultados conclusivos em relação ao caráter antropogênico dos castanhais.” Mas, por enquanto, a questão continua aberta.
Artigos científicos
SHEPARD JR., G.H. e RAMIREZ, H. “Made in Brazil”: human dispersal of the Brazil Nut (Bertholletia excels, Lecythidaceae) in Ancient Amazonia . Economic Botany. V. 65 (1), p. 44-65. 2011.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Vale encomenda novo estudo para hidrovia no Tocantins



Muita água ainda vai rolar pelo Tocantins antes do derrocamento desse trecho Todo um projeto condicionado a uma decisão política. A toda poderosa Vale quer, e provavelmente irá conseguir, bancar com dinheiro público um investimento que deveria ser dela. É a velha maneira de fazer negócios no Brasil, socializa-se com recursos públicos os custos e privatiza-se somente o lucro. 

Fonte: Valor Econômico 03/09/2012
Por Vanessa Dezem | De São Paulo
Um estudo encomendado pela Vale a uma consultoria americana deve colocar fim na questão logística que impede até agora a aprovação do projeto siderúrgico da empresa no Pará. Segundo fontes consultadas pelo Valor, em novembro a companhia entrega um estudo sobre a construção de uma hidrovia no rio Tocantins ao governo federal e, se ele for aprovado, poderá estar vencido um dos principais entrave para a viabilização da Aços Laminados do Pará (Alpa).
O investimento do governo na hidrovia é um dos pontos cruciais para que o projeto Alpa avance, pois é parte da infraestrutura necessária para a companhia receber a matéria-prima para o aço e escoar o produto siderúrgico.
E o governo tem mostrado interesse em acelerar esse processo: a hidrovia vai estar no planejamento governamental de 2013. "Em reunião com o governo, eu tive a confirmação de que a construção da hidrovia vai entrar no orçamento do ano que vem", afirmou ao Valor, o secretário da Indústria do Pará, David Leal.
Atualmente, a navegabilidade da hidrovia depende da época do ano. O rio é navegável para grandes cargas somente de novembro a junho, nas cheias. Nas demais épocas do ano, a navegabilidade fica restrita devido à existência de rochas na região entre as cidades de Marabá e Tucuruí. Para atender ao projeto siderúrgico, portanto, deve ser feita a derrocagem (retirada das pedras) dessa região, o que vai permitir o transporte todo o ano. O custo da viabilização da hidrovia ficaria entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões, segundo uma fonte próxima ao assunto.
São justamente essas questões que estão incluídas no estudo de viabilidade financiado e encomendado pela Vale à consultoria americana Shaw. O primeiro estudo entregue ao governo foi considerado incompleto, o que levou a empresa a encomendar o novo estudo. A hidrovia já tinha sido incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas depois foi retirada do plano. A Shaw também não quis comentar.
Há três meses a Vale entregou ao governo um termo em que se compromete a começar a construção da siderúrgica se ele viabilizar a hidrovia. Situada no distrito industrial de Marabá - de cerca de 240 mil habitantes -, a Alpa foi projetada para ter capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas de placas de aço ao ano, quando estiver pronta.
O projeto paraense faz parte de um plano maior, que prevê participação da Vale em três usinas no país até 2014. A mineradora projeta investir diretamente no negócio quase US$ 9 bilhões, que serão direcionados para a construção de unidades de aço nos Estados do Ceará, Pará e Espírito Santo. O empreendimento do Pará é 100% da Vale e está estimado em US$ 5 bilhões.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

FAPESP investirá R$ 10 milhões em capital semente para empresas inovadoras

Uma iniciativa dessas seria muito bem vinda aqui no estado do Pará. O Governo do Estado poderia utilizar a  Fundação Amazônia Paraense de Amparo à Pesquisa – FAPESPA com convênios em modelo similar ao apresentado pela matéria abaixo. Isso ajudaria a deslanchar o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá) que é um dos três polos tecnológicos financiados pelo governo do Pará, e criados para contribuir com um novo modelo de desenvolvimento para o estado, baseado na economia do conhecimento orientada à inovação. O PCT Guamá já possui convênio entre várias instituições ligadas a tema C&T e inovação como a UFPA, UFRA, Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti),  Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Embrapa Amazônia Oriental, a Eletrobras-Eletronorte, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (Sebrae-PA), o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Universidade do Estado do Pará  (Uepa).



Fonte: Agência FAPESP 27/08/2012 por Elton Alisson

O Governo do Estado de São Paulo lançou no dia 24 de agosto o programa São Paulo Inova, que visa apoiar empresas paulistas de base tecnológica e perfil inovador em estágio inicial.
O programa contará com três linhas de financiamento, operadas pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), e um fundo de investimento e participação (venture capital) voltado para empresas com perfil inovador e potencial para geração de novos produtos, serviços e processos.
Denominado Inovação Paulista, o fundo do chamado “capital semente” (seed capital) será constituído pelo Governo do Estado em parceria com a FAPESP, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP) e de eventuais investidores.
O fundo será administrado por um gestor, que será selecionado por meio de um processo público coordenado pela Finep, e contará com patrimônio de até R$ 100 milhões, dos quais R$ 25 milhões terão aporte da Desenvolve SP, R$ 10 milhões da FAPESP, R$ 20 milhões da Finep e uma parte do Sebrae-SP.
Os investimentos do fundo serão destinados a empresas em estágio inicial (startups) ou já em operação que atuam, preferencialmente, nas áreas de tecnologias da informação e comunicação, biotecnologia, novos materiais, fotônica, nanotecnologia e agronegócios.
Do montante de R$ 100 milhões de recursos que o fundo deverá reunir, 80% serão destinados a microempresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões e os 20% restantes para empresas com faturamento anual de até R$ 18 milhões. Os projetos serão avaliados pelo gestor do fundo de investimentos e aprovados por comitê formado por investidores.
“Estimamos que o fundo de investimentos atenderá inicialmente 15 empresas, o que representa um número importante para um fundo com patrimônio de R$ 100 milhões”, disse Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP.
As startups instaladas em incubadoras e parques tecnológicos distribuídos pelo Estado de São Paulo e as empresas que receberam ou que recebem apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPEP são candidatas a receber recursos do fundo de investimento.
“O PIPE tem aprovado cerca de dois projetos por semana e conta com uma carteira de cerca de 1,2 mil empresas que passaram pelo processo de avaliação para receber apoio do programa. Essas empresas são potenciais candidatas a receber recursos para operação e capitalização desse fundo de investimento”, disse Celso Lafer, presidente da FAPESP.
“A FAPESP tem entre suas responsabilidades o estímulo à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à inovação em empresas de pequeno porte, o que é feito por meio de programas como o PIPE”, disse Lafer.
Durante a cerimônia de assinatura do termo de cooperação para constituição do fundo de investimento, no Palácio dos Bandeirantes, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, saudou a FAPESP por sua contribuição para o desenvolvimento científico e tecnológico de empresas de pequeno porte no Estado de São Paulo.
Alckmin também destacou que não é apenas em países como os Estados Unidos que empresas nascidas a partir de ideias surgidas em universidades e instituições de pesquisas se tornaram grandes companhias.
“Aqui mesmo, no Estado de São Paulo, uma empresa que pesquisou a Xylella fastidiosa foi negociada por um valor muito superior ao inicial. Não tenho dúvidas de que com o Fundo Inovação Paulista teremos mais exemplos de empresas inovadoras paulistas em diversas áreas”, disse Alckmin.
O governador se referiu à empresa Allelyx, fundada por pesquisadores que participaram no fim da década de 1990 de um projeto financiado pela FAPESP que resultou no sequenciamento do genoma da bactéria causadora de uma doença que ataca todas as variedades de citros – a clorose variegada dos citros (CVC), mais conhecida como “amarelinho”.
A empresa de biotecnologia recebeu investimentos de um fundo de capital de risco do Grupo Votorantim e foi vendida no final de 2008 para a Monsanto a um preço cerca de três vezes superior aos recursos que recebeu.
“Tenho certeza que o setor privado participará desse fundo de capital semente em um momento em que os juros no Brasil estão caindo fortemente e os investidores procuram outras alternativas de rendimento. O fundo representa uma bela alternativa de investimento”, avaliou Alckmin.
Linhas de financiamento
Durante o evento também foram lançadas três linhas de crédito para o financiamento de projetos inovadores de empresas de base tecnológica, com condições de juros mais favoráveis.
A linha “Funcet” é voltada para o financiamento de projetos de inovação tecnológica, como o desenvolvimento de um novo produto ou processo, por startups e micro e pequenas empresas.
Já a linha “Inovação Tecnológica” visa financiar projetos inovadores de pequenas e médias empresas. Por sua vez, a linha “Incentivo à tecnologia” se destina a financiar projetos que incorporem ganhos tecnológicos e/ou processo inovadores de empresas com faturamento anual de até R$ 300 milhões.
Os juros das linhas Funcet e Inovação Tecnológica serão subsidiados pelo Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcet), vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT) e poderão chegar a zero.
Juntas, as três linhas totalizam recursos da ordem de R$ 150 milhões. “Com essas três linhas de financiamento e a criação do fundo de investimento, será possível dar um grande passo para criar novas empresas de base tecnológica no Estado de São Paulo”, disse Alckmin. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

BNDES aprova R$ 3,9 bilhões para Vale investir em logística no Maranhão e Pará


BNDES aprova o financiamento, porém a liberação de recursos só será possível após a resolução da "pendenga"     jurídica em que juiz federal do Maranhão determinou a suspensão das obras  no trecho do maranhão. No lado paraense já foram realizados cerca de 30% dos serviços previstos enquanto que no lado maranhense está apenas começando.

Fonte: BNDES 23/08/2012
A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 3,882 bilhões para a Vale S/A. Os recursos serão destinados à implantação do projeto Capacitação Logística Norte (CLN), criado para ampliar em 30,4% a capacidade de transporte e embarque de minério de ferro do Sistema Logístico da Vale, que abrange a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e os terminais ferroviário e marítimo de Ponta da Madeira, no Pará e Maranhão.  Com isso, o CLN passará a ter uma capacidade de 150 milhões de toneladas por ano (Mtpa).

O BNDES financiará 52,3% do projeto, que terá investimentos totais de R$ 8 bilhões e contempla a duplicação de aproximadamente 115 quilômetros da EFC; a aquisição de locomotivas e vagões; a construção de um novo berço de atracação (berço sul do Píer IV); e a ampliação da retroárea do terminal marítimo de Ponta da Madeira.

A expansão logística permitirá atender ao aumento de capacidade das operações de mineração em Carajás, aumentando a competitividade da empresa no setor. O Brasil é o segundo maior produtor de minério de ferro do mundo, e os corredores de ferrovias e portos são um diferencial importante na redução de custos do minério, já que as minas de Carajás estão geograficamente distantes dos grandes consumidores asiáticos, sobretudo China e Japão.

O financiamento do BNDES ao projeto CLN 150 Mtpa terá impactos diretos sobre a produção da indústria brasileira de máquinas e equipamentos — com encomendas de vagões a fornecedores nacionais — e no crescimento do emprego na região. Quinze mil postos de trabalho serão criados durante a execução das obras e 1,6 mil empregos diretos e indiretos deverão ser gerados na fase de operação logística. O projeto traz, ainda, benefícios à população do entorno, em função de investimentos realizados na ferrovia e em áreas próximas.

Programas sociais – A Vale destinará R$ 95 milhões para ações sociais nas áreas de apoio à gestão pública, infraestrutura, desenvolvimento humano e econômico, realizadas em 24 municípios do Maranhão e Pará. As iniciativas incluem treinamento e qualificação de mão de obra, investimentos em saneamento, pavimentação, moradia e programas voltados a saúde, educação e geração de emprego e renda.

Parte dos investimentos sociais não obrigatórios por lei será apoiada pelo BNDES por meio da Linha de Investimentos Sociais de Empresas. Serão priorizadas ações em municípios com baixos índices sociais na área de influência da ferrovia, com foco em educação e saúde básicas e geração de trabalho e renda.

Governo vai tombar nascente de rios

Importante iniciativa, que deve ser estendida para uma quantidade maior de rios

Fonte Valor Econômico 21/08/2012
Por Sergio Adeodato  .

As nascentes dos rios Tocantins, São Francisco e Araguaia, fortemente associados ao agronegócio e à geração de energia, serão tombadas pelo governo como patrimônio nacional, restringindo usos que representam ameaças à sua conservação e à continuidade de tradições populares.
A iniciativa, pioneira no país, reforça os instrumentos previstos pela Lei das Águas para controle e proteção dos recursos hídricos. "Agregar valor cultural é uma maneira de se evitar alterações na paisagem, prevenir enchentes e garantir a restauração de mananciais importantes para o abastecimento e a produção", justifica Dalvino Franca, da Agência Nacional de Águas (ANA), responsável pelo mapeamento e estudos que delimitarão as áreas tombadas, que já foram iniciados. O processo de tombamento pode ser iniciado antes do fim do ano.
"O conceito de nascente não se restringe a um olho d"água, mas a todo o perímetro que engloba a principal bacia de drenagem formadora do rio", explica Franca. A partir de imagens de satélite, mapas e dados de campo colhidos por técnicos da ANA, o processo de tombamento será finalizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a quem caberá a análise prévia de intervenções urbanas e empreendimentos econômicos na área.
O trabalho se complementa ao licenciamento ambiental. Garimpos, exploração de areia no leito, navegação, construção de portos e marinas, pesca e captação de água são exemplos de atividades sob controle. Municípios situados na delimitação das nascentes dos rios serão compelidos a implantar ou expandir tratamento de esgoto. O lugar será reflorestado para a maior infiltração de água das chuvas no solo, reduzindo a erosão.
A proposta do tombamento de rios e bens associados à água surgiu quando foram identificados sítios históricos sob ameaça de inundações, como a que atingiu em 2001 a cidade de Goiás Velho, reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Um sistema de alerta com sirenes foi instalado na bacia do rio Vermelho, que cruza o centro urbano e agora está na lista do tombamento. O tombamento, segundo Franca, não implica desapropriação de terras, como ocorre na criação de parque nacional ou reserva biológica, por exemplo.
Rio Araguaia: mudança no clima tira atividade tradicional dos vazanteiros
A iniciativa, em sua visão, tem o poder de sensibilizar produtores rurais em lugares protegidos, que teoricamente passam a receber atenção especial do poder público. Os proprietários ganham a responsabilidade de proteger recursos e poderão ser remunerados pelo serviço ambiental que prestam ao abrir mão de áreas produtivas em nome da conservação, a partir de iniciativas municipais, estaduais ou federais.
No programa Produtor de Água, a ANA investiu até o momento cerca de R$ 14 milhões na conservação de água e solo, através de plantio de matas ciliares, readequação de estradas vicinais e construção de pequenas barragens, entre outras medidas, envolvendo 400 produtores.
"A proposta é reconhecer a importância do patrimônio hídrico e dar um diferencial para as terras nas nascentes dos grandes rios, muitas vezes ligados a projetos econômicos e também a culturas milenares", completa Franca. Ele argumenta que "a fundamentação científica evita dúvidas e casuísmos sobre o patrimônio tombado e funciona como respaldo legal na disputa pelo uso da água".
Há novas metodologias para o cálculo sobre quais fontes hídricas são mais representativas na formação de determinados rios. Mas há muito que evoluir na precisão dos dados, hoje baseados em mapas com escala de 1 para 1 milhão, de menor resolução. No rio São Francisco, a nascente "histórica" está localizada na Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas (MG). No entanto, estudos mais precisos determinaram que a fonte principal está em outro lugar, em Medeiros (MG), que agora reivindica o prestígio de abrigar a nascente do Velho Chico, nutrida pelo principal contribuinte da bacia, o rio Samburá.
No norte de Goiás, uma placa na rodovia que bordeja o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, entre os municípios de Alto Paraíso e Colinas do Sul, avisa: "Você está na bacia do rio Tocantins". É uma pista para quem procura a nascente deste manancial de 2,4 mil km que cruza três Estados até desaguar no rio Amazonas.
A estrada é rota de fontes de águas termais, balneários e inúmeras cachoeiras, como a que se localiza na propriedade de Osvaldo e Vanda Poeck. Eles decidiram abandonar a pecuária e proteger o local, criando a Reserva Particular do Patrimônio Nacional Cachoeiras da Pedra Bonita. "Somos vistos como empecilho ao desenvolvimento", diz Vanda, preocupada com o projeto de pequena central hidrelétrica que coloca em risco a queda d"água e o turismo que mantém economicamente a sua conservação, no rio Tocantinzinho.
Projeto prevê reflorestamento para infiltração de água e redução da erosão
Na confluência dele com o rio Maranhão, área hoje ocupada pela represa da Hidrelétrica Serra da Mesa, localiza-se oficialmente a nascente do Tocantins. "Beber água do rio nem pensar", afirma Antero Petronilio, reclamando da poluição lançada pelas cidades próximas e do cheiro do metano que exala no lago da usina, devido à vegetação submersa. A captação para as torneiras na casa da família é feita em fontes minerais dentro da mata vizinha, nas terras de seu irmão - um garimpeiro que derruba barrancos de riachos à caça de diamantes e aluga o cerrado de sua propriedade para exploração de carvão.
"Chove menos e, com o desmatamento, muitos grotões secaram", acrescenta o morador, posseiro que chegou há 51 anos no município de Niquelândia (GO), tradicional área de mineração de níquel e quartzo, situada perto da nascente do Tocantins, onde hoje já não há onça e veados como antes. "Em compensação, a hidrelétrica trouxe estradas e energia", reflete Petronilio.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Por que que eu fui dormir ontem?

Interessante artigo! Para pensar que empreender não se restringe apenas ao negócio próprio, masi sim em todas as situações.



Fonte: Brasil Econômico 21/08/12 - Por Marcelo Nakagawa
Basicamente, há três tipos de empresas para se trabalhar, explicava um grande chefe que tive. O primeiro é aquele em que você acorda de manhã, coloca as mãos no rosto e pensa: Que chato! Preciso ir ao trabalho hoje! O segundo é o tipo de empresa em que você acorda, não pensa em nada e sai para trabalhar.

E o terceiro é aquele em que você acorda, coloca as mãos no rosto e pensa: Por que que eu fui dormir ontem? Estava tão legal o que estava fazendo... Amanhã, se você não se lembrar dessa passagem, com certeza trabalha no segundo tipo de empresa. Mas se lembrar, espero que abra um sorriso com a pergunta que fará a si mesmo. Neste caso, é provável que esteja empreendendo ou atuando ao lado de um grande empreendedor. 

Estes empreendedores ambicionam organizações grandiosas, que independentemente do seu tamanho, têm grandes propósitos. Foi isto que atraiu o jovem Steve Wozniak para a HP em 1973. 

Bill Hewlett e David Packard não só criaram o mito da empresa de garagem, onde a HP nasceu em 1939, como até o próprio Vale do Silício, já que a história de ambos é replicada até hoje na região. Eles também foram os responsáveis pelo desenvolvimento de um tipo de cultura organizacional que hoje é aclamada em empresas como Google, Ideo e Facebook. 

Se o Google hoje permite que seus colaboradores utilizem parte do tempo para desenvolver projetos próprios, há 60 anos, Bill e David davam folgas às sextas-feiras para que seus engenheiros pensassem em novas ideias. Se agora a Ideo defende que é preciso errar cedo para ter sucesso rápido, naquela época, eles perdoavam e até incentivavam as falhas dos seus colaboradores. 

Se você não estiver cometendo muitos erros, provavelmente está inovando pouco - costumavam dizer. E se agora Mark Zuckerberg do Facebook tenta ser um cara bacana, tratando seus funcionários como amigos, Bill e David já faziam questão de ter uma empresa, literalmente, de portas abertas para que todos tivessem acesso a todos e a tudo em ambiente de ajuda mútua. 

A gentileza dos dois era tamanha que certa vez, já consagrados como empresários de sucesso, Bill recebeu a ligação de um adolescente de 12 anos que pedia uns componentes eletrônicos para seu projeto escolar da 8ª série. 

Ele tinha achado o número na lista telefônica e agora perguntava se aquele senhor era o dono da HP. Dias depois, Steve Jobs recebia em sua casa as peças que tinha pedido. 

Por tudo isso, Steve Wozniak amava trabalhar na HP. Gostava tanto que ia para casa jantar e depois voltava para a empresa à noite. Apesar disso, Wozniak se juntou àquele rapaz com cara de adolescente da 8ª série para fundarem a Apple. Afinal, Jobs dizia que não pensavam em ser o homem mais rico do cemitério. Queria ir para a cama à noite acreditando que tinha feito algo maravilhoso naquele dia. Era o mesmo discurso de Bill e David quando fundaram a HP. 

Eles queriam construir uma empresa que contribuísse para um mundo melhor, não um criar império ou uma fortuna fantástica. E assim, Jobs e Wozniak dormiam pouco mas se divertiam muito criando produtos que até hoje tiram o sono de muita gente.

Você não precisa trabalhar nestas empresas para se sentir feliz e motivado todas as manhãs. Se abrir um sorriso amanhã, já atua em uma empresa assim. 
Mas se você ainda sonha com uma empresa destas, lembre-se que o primeiro passo para realizar seu sonho é... acordar!

Marcelo Nakagawa é professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper

Lançamento "Brasil em desenvolvimento 2011"

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os minérios e o interesse nacional

Fonte: Carta Maior 12/08
As empresas mineradoras, quase todas estrangeiras ou com forte participação de capital externo, ameaçam ir à Justiça contra o governo brasileiro. Alegam “direitos minerários”. Razão alegada: o governo não têm emitido novas licenças para pesquisas de lavras, nem outorgas de concessão do direito de minerar.
As empresas mineradoras, quase todas estrangeiras ou com forte participação de capital externo, ameaçam ir à Justiça contra o governo brasileiro. Alegam “direitos minerários”. Razão alegada: o Ministério de Minas e Energia e o Departamento Nacional de Produção Mineral, a ele subordinado, não têm emitido novas licenças para pesquisas de lavras, nem outorgas de concessão do direito de minerar. Segundo informações oficiosas, e não oficiais, a ordem é do Planalto.

A matéria sobre o assunto, publicada sexta-feira pelo jornal Valor, não esclarece de que “direitos minerários” se trata. Pelo que sabemos, e conforme a legislação a respeito, o subsolo continua pertencendo à União, como guardiã dos bens comuns nacionais. A União pode, ou não, conceder, a empresas brasileiras, o direito de pesquisa no território brasileiro e o de explorar esses recursos naturais, dentro da lei. Nada obriga o Estado a atender aos pedidos dos interessados.

A Constituição de 1988, e sob proposta da Comissão Arinos, apresentada pelo inexcedível patriota que foi Barbosa Lima Sobrinho, havia determinado que tais concessões só se fizessem a empresas realmente nacionais: aquelas que, com o controle acionário de brasileiros, fossem constituídas no Brasil, nele tivessem sua sede e seus centros de decisão.

O então presidente Fernando Henrique Cardoso, com seus métodos peculiares de convencimento, conseguiu uma reforma constitucional que tornou nacionais quaisquer empresas que assim se identificassem, ao revogar o artigo 171 da Constituição, em 15 de agosto de 1995, com a Emenda nº 6. Ao mesmo tempo, impôs a privatização de uma das maiores e mais bem sucedidas mineradoras do mundo, a nossa Vale do Rio Doce.

É bom pensar pelo menos uns dois minutos sobre a América Latina, seus recursos minerais e a impiedosa tirania ibérica sobre os nossos povos. A prata de Potosi – e de outras regiões mineiras do Altiplano da Bolívia – fez a grandeza da Espanha no século 17. O ouro e os diamantes de Minas, confiscados de nosso povo pela Coroa Portuguesa, financiou a vida da nobreza parasita da Metrópole, que preferiu usar o dinheiro para importar produtos estrangeiros a criar manufaturas no país. As astutas cláusulas do Tratado de Methuen, firmado entre Portugal e a Inglaterra, em 1703, pelo embaixador John Methuen e o Conde de Alegrete, foram o instrumento dessa estultice. Assim, o ouro de Minas financiou a expansão imperialista britânica nos dois séculos que se seguiram.

A luta em busca do pleno senhorio de nosso subsolo pelos brasileiros é antiga, mas se tornou mais aguda no século 20, com a intensa utilização do ferro e do aço na indústria moderna. Essa luta se revela no confronto entre os interesses estrangeiros (anglo-americanos, bem se entenda) pelas imensas jazidas do Quadrilátero Ferrífero de Minas, tendo, de um lado, o aventureiro Percival Farquhar e, do outro, os nacionalistas, principalmente mineiros, como os governadores Júlio Bueno Brandão e Artur Bernardes.

Bernardes manteve a sua postura quando presidente da República, ao cunhar a frase célebre: minério não dá duas safras. Essa frase foi repetida quarta-feira passada, pelo governador Antonio Anastasia, ao reivindicar, junto ao presidente do Senado, José Sarney, a aprovação imediata do novo marco regulatório, que aumenta a participação dos estados produtores nos lucros das empresas mineradoras, com a elevação dos royalties devidos e que, em tese, indenizam os danos causados ao ambiente.

Temos que agir imediatamente, a fim de derrogar toda a legislação entreguista do governo chefiado por Fernando Henrique, devolver a Vale do Rio Doce ao pleno controle do Estado Nacional e não conceder novos direitos de exploração às empresas estrangeiras, dissimuladas ou não. E isso só será obtido com a mobilização da cidadania.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.