sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Soja e florestas no Arco de Desmatamento do Brasil: Uma trégua temporária?



Estando correta a análise abaixo, seria salutar seguir de uma forma mais sistema as indicações de, principalmente, novas políticas de incentivos ao uso eficiente de áreas degradadas e e aplicação de medidas anti-desmatamento. Assim conseguiríamos minimizar um  pouco  o conflito entre a exploração do uso dos recursos e a conservação do maio ambiente, sem esquecer é claro a necessidade contínua de forte fiscalização nas áreas de uso intenso da monocultura, para também reduzir e controlar os problemas causados pelos insumos utilizados, de maneira especial os agrotóxicos.
Fonte: IPAM 17/09/2012
Análise de Christine Padoch para o site do CIFOR sobre estudo do IPAM.
Com a demanda global por commodities como o óleo de palma, a soja e a carne rapidamente aumentando e a oferta de terras utilizáveis diminuindo, as florestas conseguirão sobreviver? Será que os crescentes bilhões de habitantes do planeta poderão ser bem alimentados, bem vestidos e abrigados sem que se destruam as florestas tropicais? Um novo artigo escrito por cientistas de diversas instituições dos Estados Unidos e do Brasil sugere que ações que promovem o uso mais eficiente de terras agrícolas juntamente com medidas anti-desmatamento - podem ter dado resultados positivos onde já foi a área mais notória de perda de florestas: o infame "Arco do Desmatamento" na fronteira sul da Amazônia brasileira.
Ao focar seus estudos nas tendências mais recentes em produção de soja e mudanças na cobertura florestal no estado do Mato Grosso, Marcia Macedo e seus colaboradores mostram que a relação aparentemente inevitável entre crescimento agrícola e perda da floresta pode ser quebrada, e as metas de preservação ambiental, de mais comida, fibras e combustível podem ser alcançadas simultaneamente.
Os autores focaram sua pesquisa no Mato Grosso no período 2006-2010, quando o estado fronteiriço reduziu notoriamente sua elevada taxa de desmatamento para apenas 30% do que tinha sido ao longo da década anterior. Nos mesmos  cinco anos, a produção agrícola no Mato Grosso alcançou altas na produtividade sem precedentes.
Macedo e seus colaboradores utilizaram a combinação de dados de sensoriamento remoto e informações estatísticas sobre mudanças na cobertura florestal e produção agrícola recolhidos pelo Governo brasileiro. Eles descobriram que enquanto 78% dos aumentos na produção de soja em 2006-2010 foram devido à expansão agrícola em novas áreas (Mato Grosso lidera todos os Estados brasileiros em produção de soja), 91% daquela expansão ocorreu integralmente em terras que já haviam sido desmatadas anteriormente, em sua maioria antigas pastagens. Outros 22% do aumento em produção de soja foi devido ao maior rendimento por área. Assim, a expansão não exigiu novas incursões sobre as florestas.
Os autores também destacam que o declínio do desmatamento “coincide com o colapso dos mercados de commodities”, e que no mesmo período políticas para redução do desmatamento foram implementadas. Esta última mudança sugere que não foi apenas a crise financeira que estimulou uma desaceleração no desmatamento . De fato, a rentabilidade no setor de soja do Mato Grosso depois voltou para níveis anteriores a 2006, mas o desmatamento continuou a cair, indicando que "medidas anti-desmatamento podem ter influenciado o setor agrícola". Estes dados são muito promissores de fato, mas eles também levam a diversas questões importantes que os autores tentam abordar.
Uma das preocupações é o "vazamento", ou a possibilidade de que o desmatamento evitado em Mato Grosso possa simplesmente ter se transferido para outros lugares. Macedo et al. encontraram poucas evidencias de “vazamento direto da expansão da soja” em regiões altamente ameaçadas próximas do Cerrado do Mato Grosso, e durante aquele período os níveis de desmatamento em diversas áreas vizinhas de estados ricos em florestas da Amazônia brasileira também caíram. Mas os autores alertam que não se pode descartar a possibilidade de que não tenham sido detectadas “mudanças por uso indireto da terra e fuga para regiões mais distantes”. 
A outra questão é, claro: será que a agricultura poderá se expandir sem mais desmatamentos no Mato Grosso e em outros estados? De acordo com os autores, algumas mudanças recentes sugerem que provavelmente sim. O Governo brasileiro tem investido bastante em monitoramento e na aplicação de medidas anti-desmatamento, e tanto o governo como alguns grupos industriais têm “criado desincentivos para a expansão floresta adentro”. Mas para manter as reduções no desmatamento em meio à expansão da economia agrícola no Brasil, os autores advertem, que serão necessárias novas políticas de incentivos ao uso eficiente de áreas degradadas, especialmente na medida em que o desenvolvimento da infraestrutura da região torna as regiões de florestas remanescentes mais acessíveis, e que as novas tecnologias tornam seu uso mais lucrativo.
As advertências dos autores são oportunas.  Relatórios mais recentes da região indicam que um novo aumento nas taxas de desmatamento pode já estar em curso, e os efeitos da controversa revisão do Código Florestal proposta no Brasil permanecem incertos. É difícil prever quais serão as pressões do  próximo  boom no preço das commodities agrícolas sobre as  áreas de floresta remanescente  nos trópicos.     
Está claro, entretanto, que as sociedades e governos terão que considerar cuidadosamente estratégias e incentivos políticos apropriados, específicos, e multifacetados se pretendem  equilibrar as pressões econômicas com a necessidade de preservar as florestas e seus múltiplos serviços. Neste artigoMacedo et al.  foram bem sucedidos em mostrar que esse equilíbrio pode ser alcançado em pelo menos um lugar (e por enquanto).
Artigo originalmente publicado no site do CIFOR
Mais informações:
Macedo, M.N., DeFries, R.S., Morton, D.C., Stickler, C.M., Galford, G.L. and Shimabukuro, Y.E. 2012Decoupling of deforestation and soy production in the southern Amazon during the late 2000s. Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), doi: 10.1073/pnas.1111374109
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*Christine Padoch é antropóloga e, atualmente, diretora do Programa Forests and Livelihoods do Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR – sigla em inglês). Passou mais de 35 anos realizando pesquisas sobre os padrões de manejo florestal relacionados a pequenos produtores, agricultura e agroflorestal nos trópicos úmidos, principalmente na Amazônia e no Sudeste Asiático. Foi curadora do Instituto de Botânica Econômica do New York Botanical Garden. Padoch é Ph.D. em Antropologia pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

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