segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Mexilhão Dourado ameaça rios da Amazônia

Fonte: Portal Amazônia 10/02/2015
Espécie de molusco chegou à América do Sul no lastro de navios estrangeiros; espécie já causa problemas na região Centro-Oeste
Mexilhão dourado e sua concha. Foto: Divulgação/FZB-RS

MANAUS – O mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), molusco considerado uma espécie exótica invasora em rios da América do Sul, pode chegar à Amazônia. Sua presença traria consequências severas ao ecossistema da região. Os problemas seriam desde mudanças na qualidade da água, entupimento de sistemas de captação de água, danos a embarcações até eliminação de espécies nativas. “A introdução do mexilhão dourado poderá ser, talvez, retardada, não sei se evitada”, alerta a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal, Márcia Divina de Oliveira.

“Um programa de prevenção da invasão do mexilhão dourado, considerando suas principais vias de introdução, poderia ser implantando nas bacias onde ainda não se tem o mexilhão dourado, como na Amazônia”, completa. O mexilhão dourado é um molusco originário do Sudeste da Ásia. A espécie chegou ao continente sul-americano, provavelmente, de modo acidental na água de lastro de navios cargueiros. A Argentina teria sido a porta de entrada.
Grade de metal tomada pelo mexilhão dourado. Foto: Divulgação/Ibama

Os impactos causados pela presença do mexilhão dourado dependem de quanto o mexilhão se desenvolve. “Em ambientes naturais, a densidade pode não ser tão alta e os impactos podem ser amenizados. Na Amazônia, existem muitos ambientes naturais, como no Pantanal, onde a densidade do mexilhão não é tão alta quanto nos sistemas construídos”, explica.
Por outro lado, em sistemas como reservatórios para a geração de energia em usinas hidrelétricas, a densidade do molusco é muito alta e os danos ambientais e econômicos à altura. Segundo a pesquisadora, principalmente nas estruturas de concreto e tubulações.
Márcia destaca que, para as populações ribeirinhas, a curto prazo, os danos seriam causados a embarcações, sistemas de captação de água e na piscicultura em tanques-rede. “Qualquer estrutura que fica na água seria afetada. Os mexilhões se fixam e crescem nas águas altas. Quando as águas descem, os mexilhões morrem e provocam mau cheiro, chegando até a contaminar a água”, ressalta.
Imagens de partes da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, tomada pelo molusco. Foto: Divulgação/Itaipu

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), hoje, a espécie já foi detectada em quase toda a região Sul e em vários pontos do Sudeste e Centro-Oeste. As bacias dos rios Paraná e Uruguai, rios e lagos do sistema Guaíba, Patos-Mirim e Tramandaí, no Rio Grande do Sul, já são afetadas.
A pesquisadora da Embrapa Pantanal explica que a boa oferta de alimento e condições ambientais adequadas, como salinidade, temperatura, pH e cálcio da água favorecem a proliferação do molusco. “Nos rios de águas ácidas, com pH abaixo de 5, o mexilhão tem baixo potencial de se estabelecer, mas nos demais rios onde o pH é acima de 6, as condições são muito favoráveis”, acrescenta.
Imagem de peças da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, tomada pelo molusco. Foto: Divulgação/Itaipu

Os rios da Amazônia podem ser separados em rios de água preta, rios de água branca e rios de água clara. O molusco não encontraria um ambiente favorável em rios de água preta, como o Rio Negro, onde o pH varia entre 3,5 e 4,0. Nem tanto em rios de águas claras como Xingu, Tapajós e Tocantins, onde o pH é de 4,0 a 7,0. No entanto, em rios de água branca como os rios Amazonas, Branco, Madeira, Juruá e Purus, que possuem pH 6,5 entre 7,0, o cenário seria favorável.
Durante a fase larval o “mexilhão-dourado” é levado livremente pela água ou por vetores (objetos que transportam a larva em sua superfície ou em seu interior) até que termina por alojar-se em superfícies sólidas, onde se fixa e cresce formando grandes colônias.
Por ter uma grande capacidade de reprodução e dispersão, além de praticamente não ter predadores na fauna daqui, o mexilhão se espalha com rapidez, e por isso a espécie é considerada invasora. Pelos danos que causam, as espécies exóticas invasoras são consideradas “poluição biológica”. Estudos mostram que as invasões biológicas são a segunda maior causa de extinção de espécies, atrás apenas da destruição de habitats.
Solução
Imagem de partes da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, tomada pelo molusco. Foto: Divulgação/Itaipu
"Uma vez introduzidos no ambiente natural, não há como retirá-lo.Nos sistemas construídos, como os de captação de água e hidrelétricas, existem alguns métodos de controle para uma melhor convivência, mas não a retirada total do molusco”, diz Márcia.
Os métodos de controle do mexilhão dourado são analisados caso a caso, dependendo do uso que é feito da água. “Por exemplo, pode-se usar a remoção mecânica dos moluscos e tecnologias como campo magnético e ultravioleta, que impedem o desenvolvimento e fixação da larva do mexilhão”, sugere.
Em seu site, o Ibama mantém recomendações para evitar a proliferação do mexilhão-dourado, mas destaca que, “depois que as colônias estão instaladas, é impossível erradicá-las com os recursos e os conhecimentos atuais, por isso devemos evitar espalhar a contaminação”. O Instituto também afirma que é impossível órgãos públicos fiscalizem a dispersão da espécie, pois a larva é invisível a olho nu.
Prevenção
O Ibama recomenda que, em áreas onde há infestação do molusco, agricultores descartem a água de irrigação ou piscicultura no solo ou no mesmo corpo hídrico onde ela foi captada. Para usuários de embarcações de todos os tamanhos, pede que o casco do barco seja periodicamente inspecionada. As incrustações devem ser raspadas e enterradas longe da água, pois o animal é capaz de sobreviver por um bom tempo dentro de sua própria concha. Aos pescadores, recomenda entre outras medidas, que os instrumentos de pesca sejam lavados com água sanitária caso vá usá-los em outro local.
O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,linhao-de-belo-monte-aguarda-licenca-imp-,1637782
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