Fonte: Folha de São Paulo 01/02/2015
Belo
Monte é também o maior empreendimento do setor elétrico no Brasil. Deve
acrescentar 11.233 megawatts (MW), mas só em 2019, à capacidade de geração
instalada no país, de 133,9 mil MW, que já não está dando conta da demanda
nestes tempos de estiagem.Terceira maior obra do PAC, com investimento previsto
de R$ 28,9 bilhões em valores atuais, a hidrelétrica de Belo Monte depende de
palafitas. Melhor dizendo, da demolição de milhares desses casebres de madeira
nas áreas alagáveis de Altamira (PA), cercados de lixo por todos os lados.
A
reportagem da Folha voltou a Altamira, um ano após a publicação do especial
multimídia “A Batalha de Belo Monte”, para verificar o andamento da
usina. A hidrelétrica está atrasada, apesar dos 67% da obra civil realizados
até meados de dezembro.
A primeira
turbina da casa de força auxiliar, que tem capacidade de gerar um total de 233
MW, deveria entrar em ação agora em fevereiro. Por conta das greves e invasões,
isso foi adiado para novembro deste ano.
A
concessionária Norte Energia S.A. (Nesa) ressalva que o atraso afeta uma única
turbina de baixa potência, de 38,8 MW, ou menos de 0,4% da capacidade de Belo
Monte. Na casa de força principal, que gerará o grosso da eletricidade (11 mil
MW), não haveria atraso, informa.
No entanto,
a empresa solicitou à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) isenção de
responsabilidade pelos atrasos e prorrogação do cronograma de geração em 441 e
365 dias, respectivamente, nas casas de força auxiliar e principal. A área
técnica da Aneel já se pronunciou de forma contrária ao pedido.
Além do
prazo apertado com as casas para reassentamento, a empresa precisa ainda que
saia a tempo a licença de operação (LO) do Ibama (Instituto Nacional do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para encher o reservatório
principal, que vai inundar partes de Altamira. A licença tem de sair até
agosto, e para tanto a remoção das famílias teria de acabar em março.
Às oito
horas da manhã, o bar e restaurante Bom Paladar, no limite dos “baixões” (áreas
inundáveis) de Altamira, está fervilhando.
Pelo menos
seis caminhões de mudança de franqueados da Granero estão estacionados na
frente do bar. Cerca de 40 carregadores, capatazes e uma dezena de assistentes
sociais da empresa CNEC Worley Parsons discutem a organização das 62 mudanças
marcadas para o dia e fazem contato por celular com as famílias, para confirmar.
Meia hora
depois, cessa o vaivém. Os operários formam um semicírculo no meio da rua de
terra, dão as mãos e um deles puxa a reza: “Vamos remover essas pessoas de
lugares perigosos para o que Deus reservou para elas”. Seguem-se um pai-nosso e
palmas.
A coordenadora
Maria Aparecida enfim consegue contato com uma moradora que aceita mudar sob os
olhos e as lentes da reportagem: Fabiana Teixeira da Veiga.
A
empregada doméstica vive desde 2011 com o marido “betoneiro” (ajudante de
pedreiro), três filhos (um adotado) e o vira-latas Shrek num barraco que lhe
custou R$ 7.000 em madeira para construir (ela ganha R$ 1.200 por mês).
Fabiana,
34, está na terceira casa e no terceiro marido. Parte de mudança para o número
840 da gleba Jatobá, na rua Q, quadra 24, endereço da casa que recebeu da
Nesa.. “Essa não dou para homem nenhum, não.”
Os
carregadores esvaziam o barraco rápido. Às 9h40 sai uma das últimas peças, a
geladeira nova, presente do patrão. “Estou achando bom, não aguento mais essa
sujeira em volta da casa”, diz a mulher com um sorriso.
Debaixo
das palafitas sempre há lixo, muito. Mesmo quem recolhe o seu se vê cercado por
detritos, que boiam e se espalham a cada enchente. Fabiana faz piada e diz que
os ratos assistiam TV com ela e até se serviam de bolachas.
Alta velocidade
Cerca de
1.500 famílias já foram removidas para os novos bairros construídos pela Nesa,
batizados na concessionária com a verve característica dos engenheiros:
“Reassentamentos Urbanos Coletivos” (RUCs).
Em
dezembro faltava relocar pelo menos 2.600 famílias, ou 64% do total cadastrado.
Em contraste, restavam 33% das obras civis da usina por concluir.
O ritmo na
cidade é frenético, como nos canteiros da hidrelétrica de Belo Monte, a mais de
40 km de distância. Quase 30 mudanças são feitas por dia, e a Nesa quer chegar
a 35.
Em teoria,
o reassentamento teria de terminar no final de março, mas é provável que também
atrase. Até julho a Norte Energia precisaria concluir o saneamento dos igarapés
Altamira, Ambé e Panelas e construir novas pontes sobre as áreas que serão
inundadas de forma permanente na cidade quando o reservatório principal começar
a encher, em agosto.
Até hoje,
quando o “inverno” amazônico engrossa as chuvas em janeiro, mesmo as casas
construídas sobre postes de madeira terminavam alagadas, e os moradores tinham
de ser abrigados no pavilhão de exposições agrícolas, semanas a fio.
Com o
barramento do rio, essa seria sua condição definitiva. Daí a pressa com as
remoções.
Sem direitos
A
cozinheira Ritna Almeida Vitalino, 40, não teve a mesma sorte de Fabiana. Ela
também tem de deixar a casa de madeira que será alagada, na rua em que mora há
34 anos, mas não vai para nenhum RUC, e sim para uma casinha que comprou “no
Bacana” (bairro altamirense).
“É
injusto”, queixa-se. “A gente que lutou, construiu, não teve direito.”
Ritna
recebeu indenização da Nesa pelas benfeitorias, R$ 22 mil. Ou seja, só pela
casa, não pelo terreno, que não é seu. Ela e o marido ergueram a casa no lote
do irmão dele, pregando tábua por tábua que agora despregam e carregam para um
caminhão alugado.
A madeira
será aproveitada para fazer um puxadinho no Bacana. A nova moradia foi comprada
por R$ 40 mil, com a ajuda da família da mãe, que morava numa casa de alvenaria
na mesma rua e teve indenização maior, R$ 118 mil.
A
cozinheira ganha R$ 1.275 no Hospital Regional e tem três filhos –um par de
gêmeos de 13 anos e outro de 21, que está na faculdade. Diz que se sente feliz
por mudar, que tudo vai ser melhor no Bacana. Mas afirma estar revoltada com a
Nesa.
“Negociação,
não. Estão expulsando a gente”, desabafa. “Tem caderno de preços, e só. É pegar
ou largar.”
Durante a
entrevista, um carro de som passa pela rua e anuncia que a Norte Energia
promoveria um “Natal Solidário, com Papai Noel”, às 16h, no Sindicato dos
Aposentados, Pensionistas e Idosos, à rua Luís Coutinho.
Sem defesa
Um ano
atrás, os altamirenses que se consideram injustiçados, como Ritna, contavam com
o apoio da defensora pública Andreia Barreto nas suas tratativas com a Norte
Energia. Em 2014, porém, ela deixou a cidade.
No front
jurídico com a Nesa a população conta hoje só com a procuradora da República
Thais Santi. Ela organizou em novembro passado uma audiência pública sobre a
questão das remoções.
“É
incompreensível que, em uma obra que cause um impacto socioambiental como Belo
Monte, a população esteja desassistida. Num mundo responsável, isso é impensável”,
disse Santi em entrevista a Eliane Brum publicada pelo jornal “El País”. Também
qualificou a usina como “etnocídio”, referindo-se à situação dos povos
indígenas afetados.
Para Luiz
Antonio Zoccal Garcia, superintendente de Assuntos Fundiários e Relocações da
Nesa, a procuradora “exacerbou” e emitiu meras opiniões pessoais na entrevista.
Informa que mais de 4.200 imóveis já foram negociados, restando pouco mais de
mil pendentes de conclusão pelas empresas subcontratadas Diagonal e Engemab.
Zoccal
afirma que em menos de 3% dos casos houve recusa dos interessados ao acordo
proposto pela empresa. E, mesmo assim, segundo ele, nem sempre o problema
estava no valor –há casos em que as famílias ainda não decidiram se preferem
indenização ou uma casa no RUC, ou para qual bairro gostariam de ir.
Vontade de Deus
A
maranhense Suely Moreira da Silva, 39, não pestanejou. Quando a Norte Energia
lhe ofereceu R$ 45 mil pela palafita em que morava há sete anos na rodovia
Ernesto Acioly, que corta um dos baixões de Altamira, sabia que não conseguiria
comprar nem um bom terreno. Optou pela casa.
Com a
mudança realizada há um ano, a costureira se tornou a primeira moradora do RUC
Jatobá. “Aqui era uma fazenda muito bonita, não achei distante” [do centro da
cidade]. “É a vontade de Deus.”
Suely faz
um pouco de tudo. Além de costurar, produz artesanato e vende roupas. Vai ao
centro, quando precisa, de bicicleta, “com motor movido a feijão”.
Menina,
trabalhou na roça, quando chegou de Vitorino Freire (MA) com a mãe. Também já
fez tijolos no igarapé do Ambé, em área que será alagada pela usina. No momento
aguarda a indenização de R$ 44 mil pela olaria perdida.
Tem muitos
planos sobre o que fazer com o dinheiro extra –para começar, uma moto, a fim de
trocar o feijão por gasolina. Parte do capital será para comprar confecções em
Goiânia e revender.
Outra
parcela servirá para murar o terreno de 300 m² em torno da casa de três quartos,
erguer um alpendre de madeira nos fundos com fogão de lenha e abrir uma lojinha
do lado. Por fim, diz que vai instalar uma “central” (ar condicionado) e
aposentar o ventilador.
Política
empresarial
O
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) afirma que só metade das 7.790
famílias afetadas está de fato sendo atendida com as casas dos novos bairros e
que o cadastramento deveria ser reaberto pela Nesa.
“Não
existe política para atingidos no Brasil”, afirma Elisa Estronioli. A
jornalista milita no MAB e tem presença assídua nas reuniões públicas
quinzenais que se realizam em Altamira sobre a questão do reassentamento.
“Sempre
defendemos que deve ser o Estado, mas na regulamentação fica a cargos das
empresas”, aponta. “As indenizações são irrisórias, e eles não têm condições de
negociar.”
Com a
pressa para não atrasar a usina, a relocação não estaria cumprindo o objetivo
de permitir que os atingidos recomponham suas vidas. ”[Os RUCs] não têm
escolas, nem creches”, aponta o professor de matemática Fabiano Vitoriano,
também do MAB.
“As
crianças continuam nas escolas antigas, e o ônibus passeia pela cidade
inteira”, diz. “Alguns alunos só chegam de volta à noite.”
Para eles,
a Nesa teria reconhecido as falhas do processo e reaberto o cadastramento.
Citam como exemplo o sexto RUC, no Pedral, que estaria em estudo numa área mais
próxima do rio ao sul da cidade, para acomodar pescadores.
Zoccal, da
Norte Energia, nega que o cadastramento tenha sido reaberto e diz que a empresa
está apenas mapeando novas ocupações –“telhas brancas”, no jargão para as
coberturas de fibrocimento– e efetuando “estudos de caso”.
“Dependendo
da análise, [a família] pode ter direito a reassentamento ou indenização”,
concede o superintendente. Mesmo assim, prevê que as 4.140 casas devem ser
suficientes, mas não descarta ampliar a oferta: “Enquanto houver gente com
opção por casa a gente vai construir”.
Sonho e realidade
Em dia de
pagamento dos trabalhadores de Belo Monte, Altamira continua virando um caos,
conta Antonia Pereira Martins, a Toinha, militante do movimento de mulheres da
cidade e da ONG Fundação Viver, Produzir e Preservar.
“Muita
gente bebendo, brigas, acidentes”, reclama. “Esse negócio [Belo Monte] está
sendo feito com o barco andando”, diz, referindo-se à diferença de velocidade
entre as obras da usina e a concretização dos benefícios sociais prometidos
pelo empreendimento.
A rede de
saneamento básico (água e esgoto) está quase pronta, um ganho para uma cidade
em que ela era inexistente. Não há definição, porém, sobre quem vai pagar a
ligação de cada imóvel às tubulações –a Nesa diz que é atribuição da
prefeitura.
A
prostituição aberta, inclusive de adolescentes, sumiu das ruas, mas Toinha diz
acreditar que ainda campeia no fundo das boates. Em reuniões na Delegacia da
Mulher, foi informada de que estão em alta crimes como o estupro.
Nem mesmo
o convênio de R$ 100 milhões da Nesa com a Secretaria de Segurança Pública do
Pará para reforçar o policiamento em Altamira, que permitiu a contratação de 29
novos agentes civis, a tranquiliza: “Esse negócio é tão grande”, afirma, “que tudo
que se faz parece pouco”.
Apesar do
caos, a militante considera que algumas coisas começam a melhorar em Altamira.
“Não dá para fechar os olhos e dizer que nada presta.” Na sua opinião as casas
deveriam ter ficado prontas em 2014, mas, apesar do atraso, elas são um ponto
positivo.
“As
famílias moravam em lugares insalubres, subumanos. Não havia política de
habitação”, reconhece. “Não é a casa dos sonhos, queriam de alvenaria [em lugar
de placas de concreto], mas estão gostando.”
Fase ruim
A Norte
Energia considera uma reviravolta na opinião negativa dos altamirenses sobre
Belo Monte tão segura quanto a licença de operação que lhe permitirá pôr a
usina a funcionar.
“Serão
8.000 a 9.000 pessoas livres da enchente no inverno”, afirma o engenheiro
sergipano Duílio Diniz de Figueiredo, 66, diretor-presidente da Nesa com 43
anos de experiência no setor elétrico. “Fica um legado. E Belo Monte foi além,
[fez] ações que seriam do Estado.”
O
executivo se refere aos habitantes de Altamira que hoje moram em terrenos abaixo
da cota 100, ou seja, aquém de 100 m acima do nível do mar. A usina funcionará
com a cota máxima de 97 m, e todos os terrenos nessa situação poderão ficar
permanentemente alagados, inclusive na área urbana. Para o caso de inundações
excepcionais, porém, observa-se a cota adicional de 3 m.
Figueiredo
diz que toda construção de hidrelétrica passa por quatro fases. Na primeira,
quando chegam os forasteiros para iniciar a obra, “o pessoal do contra cria um
ambiente de que tudo é só promessa”.
Num
segundo momento, o atual, quando as coisas começam a se concretizar, tudo é
desconforto: piora o trânsito, sobem os aluguéis, a violência aumenta. No
terceiro, em geral quando se inicia a geração de energia, as compensações
começam a se tornar evidentes.
Na quarta
fase, ”[a usina] passa a fazer parte da paisagem”, afirma o chefe da Nesa. “A
comunidade retorna à condição original. As prioridades voltam a ser mais
segurança, saúde.”
Paisagem alterada
Não há
dúvida de que Belo Monte está a caminho de se tornar parte da paisagem. Uma
paisagem já muito modificada, com um canal artificial de 20 km de extensão,
duas barragens portentosas e os 100 km da Volta Grande do Xingu submetidos a uma
vazão típica de secas, pois a maior parte da água será desviada para alimentar
as turbinas da hidrelétrica.
Se a Norte
Energia não acionar as turbinas nas datas previstas, entre 2015 e 2019, em
princípio terá de pagar pela energia que deixar de produzir. Por isso a empresa
entrou com um pedido de isenção de responsabilidade na Aneel, que já foi
analisado por procuradores e pela área técnica da agência, mas ainda carece de
decisão de sua diretoria.
Nem a
Aneel nem a Nesa se pronunciam sobre a incongruência entre o pedido da
concessionária para prorrogar o cronograma de geração em pelo menos um ano e
sua afirmação de que haverá atraso apenas em turbinas da casa de força auxiliar
de Pimental, responsáveis por menos de 3% da capacidade total da hidrelétrica.
“Não interessa à empresa que haja nenhum
atraso, tanto que ela já arcou até agora, sozinha, com os custos para
minimizá-los, antes mesmo de qualquer decisão da Aneel”, afirma José Ramos
Filho, superintendente de Relações Institucionais da Norte Energia.
“O que não
se pode admitir é que os custos já incorridos, e outros potenciais referentes
ao marco regulatório, recaiam sobre o investidor, que não teve responsabilidade
sobre tais atrasos, conforme amplamente comprovado na documentação entregue à
Aneel.”
Pela forma
como o pedido foi feito, há duas possibilidades mais prováveis: ou a empresa quer
obter uma espécie de seguro da Aneel para cobrir possíveis atrasos futuros; ou
planeja cumprir quase integralmente o cronograma e, caso consiga, ganharia o
direito de vender a energia que vier a ser produzida antes dos novos prazos
-por um preço que pode ser até quatro vezes superior ao que ela receberia
entregando nos prazos atualmente contratados (sem o adiamento).
“O setor
elétrico é altamente regulado e envolve uma série de processos: geração,
transmissão e distribuição”, esquiva-se Ramos Filho. “O assunto é muito
sensível para avançarmos em interpretações.”
Mas, por
enquanto, a tese da Norte Energia de que problemas como atraso de
licenciamento, invasões e greves dão direito à empresa de não entregar a
energia no tempo previsto não está bem encaminhada. Duas superintendências
técnicas da agência reguladora já negaram o pedido de adiamento. E a
Procuradoria Federal que atua na Aneel segue no mesmo caminho. Todos entendem
que os problemas eram previsíveis para esse tipo de empreendimento.
Para que a
decisão seja diferente da recomendada pela área técnica, a maioria dos cinco
diretores da agência terá de acatar a tese da empresa, mesmo contra todos os
pareceres. Não há ainda data para a decisão ser tomada.
Operação
desintrusão
Não é só a
Aneel, da parte do Estado brasileiro, que pode complicar a marcha de Belo
Monte. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ibama também podem empatar-lhe
o caminho, embora se dê como certo que o segundo esteja empenhado em conceder a
licença de operação até meados do ano.
Cabe ao
Ibama monitorar e dar por atendidas, ou não, as dezenas de “condicionantes”
socioambientais assumidas pelo empreendedor como precondição para a licença de
operação (LO). As obras do saneamento básico e das casas para reassentamento
não devem ser obstáculo. A Nesa já investiu nelas R$ 385 milhões e R$ 400
milhões, respectivamente.
Do Plano
Básico Ambiental acordado com a empresa, que envolve investimentos de quase R$
4 bilhões em três décadas, o atraso maior se deu no chamado componente
indígena. Só em 2014 começaram de fato as melhorias nas aldeias das sete terras
indígenas da área de influência de Belo Monte.
Há mais
problemas nessa vertente, contudo. Um deles é desintrusão (expulsão de não
índios) das terras indígenas Cachoeira Seca do Iriri, dos araras, e Apyterewa,
dos paracanãs, que foi incluída entre as condicionantes de Belo Monte.
O processo
está longe de ser concluído, nos dois casos, até porque há muita tensão no
local com a ação de quadrilhas de exploração ilegal de madeira e grilagem de
terras. Nem Funai nem Ibama, contudo, dão uma resposta direta quanto a ser a
desintrusão uma condição necessária para conceder a LO.
“A
desintrusão das terras indígenas Cachoeira Seca e Apyterewa é apenas parte das
condicionantes constantes no Plano Básico Ambiental da UHE Belo Monte”, informa
a assessoria da Funai.
“Há uma
série de atrasos e descumprimento de condicionantes pelo empreendedor, em
outros aspectos além do fundiário, como o socioeconômico, o ambiental e o
cultural. A Funai está analisando todas as condicionantes do componente
indígena. Contudo, cabe ao Ibama a emissão da LO, já que a Funai não é órgão
licenciador.”
O Ibama,
por seu lado, empurra a questão de volta ao outro órgão: “As avaliações
referentes aos impactos sobre as populações indígenas são de competência da
Funai”.
A agência
ambiental, no entanto, parece inclinada a desvincular essa condicionante do
funcionamento de Belo Monte: “As condições para a concessão da LO são aquelas
relativas aos impactos que ocorrem com o evento do enchimento do reservatório e
a operação da usina, os quais devem estar equacionados antes da emissão da
licença para que o enchimento não gere impactos adicionais”.
As duas
terras indígenas em questão ficam a dezenas de quilômetros dos reservatórios da
usina e não serão afetadas diretamente pela inundação.
Colaborou DIMMI
AMORA, da Sucursal de Brasília
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