Um
posicionamento dissonante da maioria que trata da prorrogação do modelo de
incentivos existentes no PIM. Um questionamento sóbrio levantando problemas
reais e significativos, que são omitidos nas análises de um modelo que precisa
ser repensado, considerando todos os atores envolvidos para que possa enfrentar
os problemas, sem no entanto desestruturar toda uma economia que funciona de
forma bastante razoável e da qual depende uma significativa parcela da
população amazônida.
Fonte: Portal Amazônia 21 de março de 2014
Ozório Fonseca
A Câmara Federal, em meio à intensa movimentação política visível e,
quem sabe, por uma movimentação financeira invisível, aprovou, em primeiro
turno, a prorrogação do modelo Zona Franca por mais 50 anos o que vai alimentar
discursos demagógicos nas próximas eleições. Se o modelo já tinha muitos pais,
agora essa quantidade se avoluma e o Amazonas passa a “dever” muito aos novos
heróis e heroínas, algumas das quais apareceram na telinha, sem qualquer
participação teórica ou prática, pois não sabem nada sobre politica (no bom
sentido), teorias econômicas e desenvolvimento humano.
Agora vamos ter mais meio século para dormir em “berço esplêndido”, com
os governantes tratando de gastar o dinheiro proveniente do PIM, com obras
eleitoreiras caríssimas que equivocadamente chamam de infraestrutura, embora
sejam de superestrutura, pois infraestrutura é configurada pela parte invisível
que configura uma sociedade. Lamentavelmente a “ingnorança astravanca o progressio”
no momento atual da vida brasileira, embora proporcione muitos lucros
empresariais e pessoais além de vantagens pessoais.
Entendo que hoje o modelo Zona Franca não pode ser extinto de forma
brusca, mas essa prorrogação deveria ser nova oportunidade para o Amazonas
encontrar seu próprio caminho, usando a biodiversidade em um Polo de
Bioindústrias, cujos produtos têm um nicho de mercado sem competidores desleais
que impedem os trabalhadores de reivindicar melhores salários e qualidade de
vida. Uma greve justa como a dos servidores da Suframa seria impossível
na China.
O problema é que o modelo Zona Franca (e suas empresas coloniais),
importantes em um momento, acabou se perenizando e criando um sistema perverso
de concentração de renda e distribuição de miséria, como mostram e provam os
números do Produto Interno Bruto e do Índice de Desenvolvimento Humano. Para
não ficar parecendo um “auauau, caixa de fósforo” reproduzo valores do PIB e
seu percentual sobre o PIB estadual, e o IDH de três emblemáticos municípios,
em 2010: Manaus: PIB: R$ 48.598.153.000 (81,3%); IDH: 0,737. Coari: PIB: R$
1.376.424.000 (2,3%); IDH: 0,586; Atalaia do Norte: PIB: R$69.960.000 (0,11%);
IDH 0,450.
A realidade Amazônica
A vida no hinterland é diametralmente oposta ao “way of life” dos
bairros mais badalados de Manaus como Morada do Sol, Ponta Negra e Vieiralves
que guardam uma distância abissal de outros bairros manauaras como Cidade de
Deus, Zumbi, Puraquequara, etc., e têm uma distância só medida em anos luz, com
qualquer local da cidade de Atalaia do Norte que, ufanisticamente é chamada de
Princesa do Javari.
O Brasil empobreceu
O lulismo trouxe, junto (ou por conta) da falta de escolaridade e de
muita vivacidade politica (no mau sentido) de seu líder, um decréscimo na
qualidade moral e ética do Brasil que se difunde por todos os setores de
atividade, embora se deva registrar a existência de honrosas exceções pessoais.
Os crimes cometidos pelas elites econômicas e pelo mundo dos pobres e muito
pobres, são similares do ponto de vista moral, mas a impunidade preparada
legalmente para os ricos irrita a porção ética da sociedade que grita por penas
mais duras e redução da maioridade penal, mesmo sabendo que os mecanismos de
proteção aos adolescentes ricos vão permanecer e até serem aprimorados.
E como o PIB vai aumentar, ainda que em percentuais insignificantes, a
caríssima propaganda midiática vai se intensificar transmudando o significado
do ridículo e sem dizer que os valores do PIB mais escondem do que revelam,
pois mostram o preço de tudo sem revelar o valor de nada.
O atraso é tão imenso que o Brasil voltou ao tempo dos filmes de Far
West que mostravam grandes proprietários barrando córregos para garantir a
dessedentação de seus rebanhos, embora suas barragens impedissem os pobres de
ter acesso à água.
Esse lastimável cenário brasileiro atual mostra o Amazonas lutando para
privilegiar os ricos do modelo Zona Franca e mostra a briga entre o Rio e São
Paulo pela água. Nesse caso especifico, o governador Alkmin (dos ricos)
pretende retirar (barrar) a água de um rio (córrego) para dessendentar sua
população, retirando a água dos “pobres” do Rio de Janeiro. Espero que essa
briga de “cowboys” não tenha a adição de índios lutando por suas terras,
exatamente como, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, quando diretores geniais,
como John Ford e William Wyler antecipavam essa realidade que se repete muitos
anos depois em um Brasil medíocre.
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