quarta-feira, 16 de abril de 2014

Mais 50 anos de Laissez-Faire

Um posicionamento dissonante da maioria que trata da prorrogação do modelo de incentivos existentes no PIM. Um questionamento sóbrio levantando problemas reais e significativos, que são omitidos nas análises de um modelo que precisa ser repensado, considerando todos os atores envolvidos para que possa enfrentar os problemas, sem no entanto desestruturar toda uma economia que funciona de forma bastante razoável e da qual depende uma significativa parcela da população amazônida. 
Fonte: Portal Amazônia 21 de março de 2014
 Ozório Fonseca
A Câmara Federal, em meio à intensa movimentação política visível e, quem sabe, por uma movimentação financeira invisível, aprovou, em primeiro turno, a prorrogação do modelo Zona Franca por mais 50 anos o que vai alimentar discursos demagógicos nas próximas eleições. Se o modelo já tinha muitos pais, agora essa quantidade se avoluma e o Amazonas passa a “dever” muito aos novos heróis e heroínas, algumas das quais apareceram na telinha, sem qualquer participação teórica ou prática, pois não sabem nada sobre politica (no bom sentido), teorias econômicas e desenvolvimento humano.
Agora vamos ter mais meio século para dormir em “berço esplêndido”, com os governantes tratando de gastar o dinheiro proveniente do PIM, com obras eleitoreiras caríssimas que equivocadamente chamam de infraestrutura, embora sejam de superestrutura, pois infraestrutura é configurada pela parte invisível que configura uma sociedade. Lamentavelmente a “ingnorança astravanca o progressio” no momento atual da vida brasileira, embora proporcione muitos lucros empresariais e pessoais além de vantagens pessoais.
Um liberalismo perverso
Entendo que hoje o modelo Zona Franca não pode ser extinto de forma brusca, mas essa prorrogação deveria ser nova oportunidade para o Amazonas encontrar seu próprio caminho, usando a biodiversidade em um Polo de Bioindústrias, cujos produtos têm um nicho de mercado sem competidores desleais que impedem os trabalhadores de reivindicar melhores salários e qualidade de vida.  Uma greve justa como a dos servidores da Suframa seria impossível na China.
O problema é que o modelo Zona Franca (e suas empresas coloniais), importantes em um momento, acabou se perenizando e criando um sistema perverso de concentração de renda e distribuição de miséria, como mostram e provam os números do Produto Interno Bruto e do Índice de Desenvolvimento Humano. Para não ficar parecendo um “auauau, caixa de fósforo” reproduzo valores do PIB e seu percentual sobre o PIB estadual, e o IDH de três emblemáticos municípios, em 2010: Manaus: PIB: R$ 48.598.153.000 (81,3%); IDH: 0,737. Coari: PIB: R$ 1.376.424.000 (2,3%); IDH: 0,586; Atalaia do Norte: PIB: R$69.960.000 (0,11%); IDH 0,450.
A realidade Amazônica
A vida no hinterland é diametralmente oposta ao “way of life” dos bairros mais badalados de Manaus como Morada do Sol, Ponta Negra e Vieiralves que guardam uma distância abissal de outros bairros manauaras como Cidade de Deus, Zumbi, Puraquequara, etc., e têm uma distância só medida em anos luz, com qualquer local da cidade de Atalaia do Norte que, ufanisticamente é chamada de Princesa do Javari.
O Brasil empobreceu
O lulismo trouxe, junto (ou por conta) da falta de escolaridade e de muita vivacidade politica (no mau sentido) de seu líder, um decréscimo na qualidade moral e ética do Brasil que se difunde por todos os setores de atividade, embora se deva registrar a existência de honrosas exceções pessoais. Os crimes cometidos pelas elites econômicas e pelo mundo dos pobres e muito pobres, são similares do ponto de vista moral, mas a impunidade preparada legalmente para os ricos irrita a porção ética da sociedade que grita por penas mais duras e redução da maioridade penal, mesmo sabendo que os mecanismos de proteção aos adolescentes ricos vão permanecer e até serem aprimorados.
E como o PIB vai aumentar, ainda que em percentuais insignificantes, a caríssima propaganda midiática vai se intensificar transmudando o significado do ridículo e sem dizer que os valores do PIB mais escondem do que revelam, pois mostram o preço de tudo sem revelar o valor de nada.
O atraso é tão imenso que o Brasil voltou ao tempo dos filmes de Far West que mostravam grandes proprietários barrando córregos para garantir a dessedentação de seus rebanhos, embora suas barragens impedissem os pobres de ter acesso à água.
Esse lastimável cenário brasileiro atual mostra o Amazonas lutando para privilegiar os ricos do modelo Zona Franca e mostra a briga entre o Rio e São Paulo pela água. Nesse caso especifico, o governador Alkmin (dos ricos) pretende retirar (barrar) a água de um rio (córrego) para dessendentar sua população, retirando a água dos “pobres” do Rio de Janeiro. Espero que essa briga de “cowboys” não tenha a adição de índios lutando por suas terras, exatamente como, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, quando diretores geniais, como John Ford e William Wyler antecipavam essa realidade que se repete muitos anos depois em um Brasil medíocre.


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