Essa era uma das principais previsões feitas no relatório anterior, de
2007
Fonte : ORM News 26 de março 2014
Há pelo menos uma boa notícia, se é que se pode dizer assim, no novo
relatório do IPCC (o painel científico da ONU sobre mudanças climáticas): a
Amazônia não corre mais o risco de virar uma savana até o final do século.
Essa era uma das principais previsões feitas no relatório anterior, de
2007, do IPCC. Na época, modelos climáticos apontavam que o aumento da
temperatura e as mudanças climáticas levariam a uma nova configuração da
vegetação em busca de um reequilíbrio com o clima diferente. Assim, em vez de
permanecer como uma floresta densa chuvosa, a Amazônia responderia apresentando
um menor porte, menor diversidade, menor biomassa — mais semelhante com o nosso
cerrado. Isso acabou conhecido como savanização e foi um dos pontos de maior
crítica ao IPCC.
Sete anos depois, e com mais estudos disponíveis, o cenário ficou menos
pessimista. É o que se pode concluir de uma versão preliminar do relatório
completo do grupo de trabalho 2 do IPCC (que fala sobre impactos,
vulnerabilidade e adaptação) que vazou na internet nos últimos dias. O material
será chancelado no final da semana em plenária do IPCC em Yokohama, no
Japão.
No capítulo que fala sobre ecossistemas terrestres, e teve como um dos
autores o americano Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia (IPAM), que há 30 anos estuda a floresta, o IPCC pontua que o novo
conhecimento sobre a dinâmica da floresta melhorou e a probabilidade de ela
sofrer essa transformação é bem menor que o que se imaginava anteriormente.
“Apesar de que uma diminuição das chuvas e secas mais severas são esperadas no
leste da Amazônia”, escrevem.
O cenário do colpaso da floresta foi duramente criticado alguns meses
após o lançamento da segunda parte do relatório 4 do IPCC, em 2007. Na época
ele se baseava em uma modelagem climática, feita pelo Hadley Center, da
Inglaterra, que projetava um aumento de um ciclo vicioso: o desmatamento
alimentaria uma seca, que interagiria com as mudanças climáticas e o aumento da
presença de gás carbônico na atmosfera, levando a colpaso de metade da floresta
até o final do século 21.
O modelo, porém, nunca acertou direito o regime atual de chuvas da
floresta, sempre estimava para baixo. Falava em uma média de 1.400 a 1.500 mm
quando a medida nas estações meteorológicas ficava em mais de 1.700 mm. Esse
erro na modelagem inicial acabou levando aos resultados mais catastróficos.
Além de os modelos terem melhorado, vários estudos experimentais
conduzidos na própria floresta ao longo da última década mostraram um cenário
um pouco diferente. A floresta continua sendo ameaçada por períodos de seca
intensa, mas seu grande inimigo talvez seja o fogo.
“A melhor notícia trazida pelos últimos estudos é que, mesmo com a
mudança climática, o homem pode mitigar os seus efeitos ao controlar o uso do
fogo na agricultura”, comenta o pesquisador Britaldo Soares-Filho, da
Universidade Federal de Minas Gerais e especialista na dinâmica da floresta.
O fogo é ainda é um recurso bastante usado por agricultores para limpar
o terreno. Mas num momento de seca ele pode se espalhar com potencial realmente
danoso para a floresta. “Sem esse combate, há realmente o risco de perder a
floresta, com mudança do clima ou não. É o grande gatilho para empobrecer a
floresta”, diz Britaldo.
“Mas o clima pode agravar isso. Agora estamos em um ano muito chuvoso em
Rondônia, no Acre, mas em Roraima o fogo está tomando conta. E tivemos duas
grandes secas, de 2005 e 2010. A variabilidade está aumentando, a princípio”,
complementa.
Seca - Experimentos conduzidos por Nepstad em que trechos da floresta
foram secados com paineis solares observaram o limiar da resistência à seca,
com a morte de grandes árvores. “As secas naturais que tivemos depois em 2005 e
em 2010 validaram o estudo: 1 bilhão de toneladas de carbono foi liberada com a
morte das árvores por seca natural.”
Depois foi investigado o pontecial do fogo. Uma parcela da floresta
queimada intencionalmente no Mato Grosso, nas cabeceiras do Xingu, teve uma
mortalidade de 50% das árvores num momento de temperatura mais alta e ventos
fortes.
“É possível evitar que o fogo entre na floresta. Por outro lado, o
Brasil está conseguindo reduzir o desmatamento. Se essa conquista se consolidar
e evitarmos o fogo, dá para manejar o que a mudança climática tem de pior a
jogar no Brasil”, diz Nepstad.
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