Evoluiremos
como nação quando os discurso se tornarem prática, e seja expressão do conjunto
do pensamento de um grande grupo e não só de alguns.
Fonte: Diário do Pará 05/06/2012
“Em vez de exportar só o pó do alumínio, temos de exportar
ligas metálicas. Em vez de exportar o caroço do açaí, temos de exportar o
iogurte do açaí. Em vez do cacau, o chocolate. No lugar do boi em pé, filés
embalados de alta qualidade. Em vez de madeiras, móveis”, exemplifica o
secretário.
Segundo Fiúza, não há alternativa. Ou se investe em
conhecimento ou não existirá futuro para a Amazônia. “O problema é que essa
verticalização não interessa à indústria de fora. Não interessa para as
indústrias de móveis do sul do País que façamos isso aqui. Nem à indústria
siderúrgica da China que façamos as ligas metálicas”.
É um posicionamento histórico em relação à Amazônia. “A
Amazônia é periferia, é quintal”, diz o secretário. “Não se olha para a região
pensando em desenvolvimento em favor dos próprios moradores locais. Sempre se
olham as riquezas em favor da acumulação do capital, e não dos povos
amazônicos. Por não termos força política, continuamos como almoxarifado de
matérias-primas”.
POTÊNCIA
Não existe um efetivo projeto de Brasil para a Amazônia em
termos de sustentabilidade. Na análise do secretário, significaria haver mais
cientistas, mais inovação no conhecimento, mais tecnologia. “Só que tudo isso é
muito caro e o Brasil não está disposto a jogar dinheiro na Amazônia. A União
não se interessa em transformar a Amazônia em uma potência. E a Amazônia é uma
potência. Mais importante que o Pré-sal é o banco genético da região. É o maior
do planeta”.
Com isso são desperdiçadas novas oportunidades. O que os
especialistas apostam é que a indústria do futuro será a bioindústria, ou seja,
a produção de remédios, cosméticos, nutrientes, inseticidas. Com o bioma mais
rico do mundo, a Amazônia é a região ideal para o desenvolvimento de projetos
nesse sentido.
Falta interesse
Para o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pará,
não há interesse da União em transformar a Amazônia em uma potência. Para ele,
as riquezas da região são muito mais importantes que o pré-sal, por exemplo,
pois é aqui que fica o maior banco genético do planeta. A bioindústria seria
uma saída de desenvolvimento.
Inclusão social é necessária
É esse cenário que a Secti pretende estimular. Na visão
estratégica estabelecida pelo Plano Diretor 2011-2015, o primeiro passo seria
aprofundar a política de formação com qualidade de recursos humanos e em
segundo lugar a criação, consolidação e ampliação do que a secretaria chama de
Redes Interdisciplinares de Excelência em Pesquisa.
A rede está focada em nove eixos. Biotecnologia e uso
sustentável da biodiversidade; sociodiversidade; recursos energéticos e
hídricos; recursos minerais; agricultura, pecuária e pesca; economia florestal;
saúde, fármacos e fitomedicamentos; tecnologia da informação e comunicação e
multimodalidade de transportes.
“O governo do Estado precisa criar as bases. Sabemos que
ciência e educação são pela própria natureza ações com resultantes em longo
prazo, mas as bases devem ser criadas já. As elites econômicas e produtivas do
Pará devem, acima de ideologias partidárias, estar de acordo em relação a
determinadas matérias, para que não retroaja. Não teremos saída se não for
assim”, diz o secretário.
Há iniciativas jurídicas para isso. Já está sendo estudado o
projeto de lei de Inovação, para favorecer com benefícios que apresente
projetos e ações de inovação tecnológica e social. Há também a lei de acesso ao
patrimônio genético, para favorecer pesquisas que venham estudar aspectos da
biodiversidade no estado.
A ideia básica é pensar sustentabilidade a partir de quem
mora na região. Dos 26 milhões de habitantes, 80% moram em cidades. Grande
parte em áreas de periferia, alagadas, sem infraestrutura, sobrevivendo de
economia informal. “Se a Rio + 20 não gerar discussão sobre economia
sustentável para a Amazônia, será uma farsa”, alerta Alex Fiúza. “A Amazônia
não pode ser preservada para o mundo se não for feita a inclusão social dos que
nela habitam. Ou fazemos isso ou continuaremos a fazer o que chamo de
escravidão verde, em que apenas se preserva sem alternativa alguma. O preservacionismo
virou uma ideologia que ignora a as condições sociais dos que vivem na
Amazônia”, afirma.
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