terça-feira, 5 de junho de 2012

Amazônia precisa deixar de ser o quintal do mundo


Evoluiremos como nação quando os discurso se tornarem prática, e seja expressão do conjunto do pensamento de um grande grupo e não só de alguns.
Fonte: Diário do Pará 05/06/2012
 Verticalizar a economia da Amazônia a partir da aplicação do conhecimento e da tecnologia. Mais do que uma receita pronta ou solução imediata, é um caminho que deve ser adotado pelos estados para superar o fosso que divide a região do resto do país e do mundo. É o que defende o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) Alex Fiúza de Melo, 56 anos.

“Em vez de exportar só o pó do alumínio, temos de exportar ligas metálicas. Em vez de exportar o caroço do açaí, temos de exportar o iogurte do açaí. Em vez do cacau, o chocolate. No lugar do boi em pé, filés embalados de alta qualidade. Em vez de madeiras, móveis”, exemplifica o secretário.

Segundo Fiúza, não há alternativa. Ou se investe em conhecimento ou não existirá futuro para a Amazônia. “O problema é que essa verticalização não interessa à indústria de fora. Não interessa para as indústrias de móveis do sul do País que façamos isso aqui. Nem à indústria siderúrgica da China que façamos as ligas metálicas”.

É um posicionamento histórico em relação à Amazônia. “A Amazônia é periferia, é quintal”, diz o secretário. “Não se olha para a região pensando em desenvolvimento em favor dos próprios moradores locais. Sempre se olham as riquezas em favor da acumulação do capital, e não dos povos amazônicos. Por não termos força política, continuamos como almoxarifado de matérias-primas”.


POTÊNCIA

Não existe um efetivo projeto de Brasil para a Amazônia em termos de sustentabilidade. Na análise do secretário, significaria haver mais cientistas, mais inovação no conhecimento, mais tecnologia. “Só que tudo isso é muito caro e o Brasil não está disposto a jogar dinheiro na Amazônia. A União não se interessa em transformar a Amazônia em uma potência. E a Amazônia é uma potência. Mais importante que o Pré-sal é o banco genético da região. É o maior do planeta”.

Com isso são desperdiçadas novas oportunidades. O que os especialistas apostam é que a indústria do futuro será a bioindústria, ou seja, a produção de remédios, cosméticos, nutrientes, inseticidas. Com o bioma mais rico do mundo, a Amazônia é a região ideal para o desenvolvimento de projetos nesse sentido. 

Falta interesse

Para o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pará, não há interesse da União em transformar a Amazônia em uma potência. Para ele, as riquezas da região são muito mais importantes que o pré-sal, por exemplo, pois é aqui que fica o maior banco genético do planeta. A bioindústria seria uma saída de desenvolvimento.

Inclusão social é necessária

É esse cenário que a Secti pretende estimular. Na visão estratégica estabelecida pelo Plano Diretor 2011-2015, o primeiro passo seria aprofundar a política de formação com qualidade de recursos humanos e em segundo lugar a criação, consolidação e ampliação do que a secretaria chama de Redes Interdisciplinares de Excelência em Pesquisa.

A rede está focada em nove eixos. Biotecnologia e uso sustentável da biodiversidade; sociodiversidade; recursos energéticos e hídricos; recursos minerais; agricultura, pecuária e pesca; economia florestal; saúde, fármacos e fitomedicamentos; tecnologia da informação e comunicação e multimodalidade de transportes.

“O governo do Estado precisa criar as bases. Sabemos que ciência e educação são pela própria natureza ações com resultantes em longo prazo, mas as bases devem ser criadas já. As elites econômicas e produtivas do Pará devem, acima de ideologias partidárias, estar de acordo em relação a determinadas matérias, para que não retroaja. Não teremos saída se não for assim”, diz o secretário.

Há iniciativas jurídicas para isso. Já está sendo estudado o projeto de lei de Inovação, para favorecer com benefícios que apresente projetos e ações de inovação tecnológica e social. Há também a lei de acesso ao patrimônio genético, para favorecer pesquisas que venham estudar aspectos da biodiversidade no estado.

A ideia básica é pensar sustentabilidade a partir de quem mora na região. Dos 26 milhões de habitantes, 80% moram em cidades. Grande parte em áreas de periferia, alagadas, sem infraestrutura, sobrevivendo de economia informal. “Se a Rio + 20 não gerar discussão sobre economia sustentável para a Amazônia, será uma farsa”, alerta Alex Fiúza. “A Amazônia não pode ser preservada para o mundo se não for feita a inclusão social dos que nela habitam. Ou fazemos isso ou continuaremos a fazer o que chamo de escravidão verde, em que apenas se preserva sem alternativa alguma. O preservacionismo virou uma ideologia que ignora a as condições sociais dos que vivem na Amazônia”, afirma.

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