Com biotecnologia, já estamos produzindo 20 toneladas de peixe
por hectare na Amazônia, contra 300 ou 400 quilos de carne bovina na pecuária
predatória. Com inovação, a Embrapa reduziu drasticamente a extensão de terra
que as fazendas do agronegócio precisam para gado de leite e corte, permitindo
recuperar a floresta, adensando sua riqueza com espécies de alto valor
comercial.
Wilson Périco é economista, presidente do CIEAM, Centro da
Indústria do Estado do Amazonas, e vice-presidente da Technicolor para a América
Latina.
A Amazônia tem 30 vezes menos doutores do que a média do Brasil,
dizem as estatísticas do Conselho Nacional de Pesquisa, embora tenha mais de
20% dos seres vivos da Terra. Pior que isso, o Brasil despenca em inovação
tecnológica desde 2010, quando apareceu em 38º lugar no mundo. Em 2011, caiu
para 44º e, com corte nas verbas de C&T, tenderá a se afastar de seus
concorrentes.
Alguns alertas da mídia, a propósito, têm colocado o papel da
pesquisa na Amazônia como fator de mudança. Na semana passada, um destaque para
o Curso de Agroecologia, P&D nos confins da floresta, ministrado no idioma
dos índios ticunas, foi usado para dizer que a UEA, Universidade do Estado do
Amazonas, mantida integralmente pelo setor produtivo da Zona Franca de Manaus, volta
a figurar entre as 100 melhores do país, no RUF, Ranking Universitário da
Folha. Subiu 18 posições no último ano, reafirmando este rumo certo do
incentivo fiscal para promover o desenvolvimento regional sem destruir a
floresta.
Outra notícia compara a região amazônica, onde borbulham mais de
20% dos princípios ativos da Terra, com o Vale do Silício, na Califórnia, onde
a tecnologia criou uma onda de prosperidade a partir do conhecimento. A
comparação foi feita pela revista "Proceedings of the National Academy of
Sciences”, onde seu novo membro, o cientista e climatologista brasileiro,
Carlos Nobre, defende a Biotecnologia como ferramenta de combinação entre
conservação florestal e desenvolvimento sustentável para geração de
oportunidades.
Com os recursos de pesquisa e desenvolvimento, recolhidos,
apenas pela indústria de informática da Zona Franca de Manaus, R$ 1,4 bilhão,
contabilizado até 2014, pelos dados da Suframa, "qualquer país focado
teria feito uma revolução tecnológica", diz Thomaz Nogueira, seu
ex-superintendente. Os cientistas locais do Inpa, Instituto Nacional da
Amazônia, com quem temos estreitado parcerias, defendem estas teses da
combinação da pesquisa, desenvolvimento e mercado desde as origens da
instituição, no pós-guerra.
Na Califórnia, o grande indutor da explosão tecnológica foi o
poder público, que desembarcou no florescimento de grandes empresas como a
Apple, a Microsoft, o Google, para citar algumas. Na Amazônia, a União, em vez
de reinvestir, fez da ZFM uma exportadora líquida de recursos. Em debates com
as entidades da indústria, cientistas como Niro Higuchi, prêmio Nobel da Paz,
entre os indicados pela ONU, nas Mudanças Climáticas, propõe o Manejo Florestal
Sustentável, como mecanismo de proteção florestal e diversificação da economia
sustentável.
Carlos Bueno, pesquisador da área de bioeconomia e Agroecologia,
do Inpa, desfila uma lista enorme de oportunidades que os acervos daquela
instituição disponibiliza para os novos empreendedores. Nas coleções e
inventários destes nos escaninhos da Amazônia existem verdadeiros ovos de
Colombo - ideias que produzem novas conquistas - à espera de empreendedores
interessados e da flexibilização dos burocratas para fazer a economia do chip
consolidar a bioeconomia do cipó, sem depredar a floresta.
Não há outro jeito de resguardar prosperidade e conservação da
biodiversidade. Com biotecnologia, já estamos produzindo 20 toneladas de peixe
por hectare na Amazônia, contra 300 ou 400 quilos de carne bovina na pecuária
predatória. Com inovação, a Embrapa reduziu drasticamente a extensão de terra
que as fazendas do agronegócio precisam para gado de leite e corte, permitindo
recuperar a floresta, adensando sua riqueza com espécies de alto valor
comercial.
O Curso de Agroecologia para os alunos da Universidade do Estado
do Amazonas, que combina o acervo cultural milenar amazônico, das populações
tradicionais, e as categorias acadêmicas do conhecimento científico e do
empreendedorismo, pode ter sua expansão interrompida porque o estado atravessa
a maior crise econômica de sua história. Assim também, outras iniciativas serão
inibidas, tanto na área da bioeconomia como da tecnologia da informação e
comunicação - que poderiam adensar o polo industrial de Manaus - se continuar o
confisco de recursos que as empresas recolhem para aplicação regional, para a
Suframa e para pesquisa e desenvolvimento.
Aqui, cabe enfatizar, funcionam apenas 0,6% das indústrias do
país, enquanto no Sudeste tem mais de 30%, mas os burocratas do Planalto – por
que temer a ZFM? - vetam a produção de luminárias de Led e placas de energia
solar, emperram a indústria de fármacos e cosméticos, atividades produtivas
coerentes com a nova economia, com a bioeconomia, inteligente e sustentável,
que induzirão a progressiva independência do mecanismo de renúncia fiscal e
ajudar o Brasil a reduzir suas desigualdades regionais, respeitar o Acordo do
Clima e da prosperidade de seus cidadãos.
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