terça-feira, 23 de abril de 2024

Uma visita as Diversidades Amazônicas.

 



No sábado dia 13 de abril por conta de atividade extra da Disciplina Economia Amazônica do curso de Economia da UFPA, na qual sou aluno, e tenho o professor Eduardo Costa, como o docente responsável, visitei o Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém, Pará, que é um espaço dedicado à exposição permanente “Diversidades Amazônicas”, que reúne um variado acervo do próprio Museu, que nos apresenta conhecimentos científicos e tradicionais do vasto território amazônico. Descobri que o nome do espaço é uma homenagem ao antropólogo Eduardo Galvão, uma referência em estudos de populações indígenas da Amazônia.

A experiencia vivenciada me trouxe uma contradição de sentimentos, entre a alegria de descobrir um espaço rico e moderno de conhecimento sobre a região, que com sua diversidade de ecossistemas, povos e culturas, me permite reafirmar minha amazonidade e convicção de que é importante continuar lutando pela conservação do que temos aqui. E a tristeza de rememorar toda a caminhada dolorosa e injusta que já vivenciamos e, ainda continuamos a enfrentar, de seres exógenos, que com a ajuda de muitos locais, tentam impedir de nos realizarmos plenamente como sociedade.

Na caminhada, começamos na pré-história da região, com diversos artefatos paleontológicos desde sua formação há milhões de anos. Não se tratou das ORIGENS DO HOMEM AMAZÔNICO, que teria atravessado o estreito de Bering e chegado ao vale do rio Amazonas há cerca de 15 mil anos, marcando o início da ocupação humana na região. Ou mesmo das TEORIAS FANTÁSTICAS e fantasiosas sobre a ocupação humana na Amazônia, como a lenda mais extraordinária, para Marcio Souza de que OS CHINESES CHEGARAM ANTES DOS EUROPEUS aqui pelas terras amazônicas. Mas a exposição nos apresenta a árvore da vida em sua diversidade de seres da flora e fauna, com formas medidas e funções tão distintas e importantes. Um espaço sensorial para se sentir imerso na floresta, com a visão do verde, que não é inferno, e sim o paraíso quase perdido, e seus melodiosos e misteriosos sons e imagens. Histórias, plantas, bichos, rios, artefatos culturais, quantas sensações em tão pouco tempo e espaço.

Quando os europeus aqui chegaram, encontraram sociedades hierarquizadas, densamente povoadas e culturalmente ricas. Descobriram que A AMAZÔNIA NÃO ERA UM VAZIO DEMOGRÁFICO, contrariando o senso comum, que infelizmente ainda hoje existe. As populações da Amazônia desenvolveram uma cultura adaptativa bem-sucedida à selva tropical, e OS POVOS INDÍGENAS ONTEM, HOJE E AMANHÃ continuam desmentindo preconceitos sobre seu suposto primitivismo e desafiando as concepções eurocêntricas, levando a uma reavaliação das diferenças culturais e à necessidade de encontrar parâmetros para entendê-las. Aqui existiam e ainda existem AS SOCIEDADES COMPLEXAS DA AMAZÔNIA, que desafiam a visão de que a Amazônia era uma região de poucos recursos e baixa densidade populacional.

A exposição combinada com a experiência de vida de cada um, nos leva a compreender O QUE É A CULTURA DA FLORESTA TROPICAL. Uma cultura definida pelos elementos econômicos compartilhados, e especialmente centrada na mandioca. Uma cultura baseada na agricultura intensiva de tubérculos, tão intrinsecamente ligada ao cultivo que sua origem se confunde com a origem das plantas cultivadas.

Especial atenção me chamou o espaço dedicado AS LÍNGUAS AMAZÔNICAS, construído com uma beleza estética marcante, com suas árvores linguísticas associadas a características de espécies vegetais, e a belíssima sonoridade de cada grupo de línguas exibidas. A diversidade linguística dos povos da Amazônia, que é tão vasta e pouco conhecida, causa uma certa incompreensão e tristeza, pois muitos desses idiomas estão em processo de desaparecimento, o que compromete a diversidade linguística e empobrece a expressão humana. Pior: a perda de línguas é frequentemente associada à perda de território e formas de vida das comunidades que as falam.

A Amazônia sempre foi vista como uma região sem história devido à sua condição geográfica e pelo olhar eurocêntrico. No entanto, cada vez mais, estudos recentes têm desafiado a visão tradicional e revelado a riqueza histórica das sociedades, descortinando O PASSADO NA MEMÓRIA DOS MITOS E DAS LENDAS. Os mitos e lendas indígenas preservam memórias do passado pré-colonial. A historiografia amazônica tem enfrentado desafios epistemológicos, mas estudos recentes têm destacado a importância dos mitos como fonte histórica. O processo histórico é seletivo e a representação do passado é influenciada pelo encontro entre diferentes culturas. Para os povos originários amazônicos, a história se manifesta através dos mitos e da consciência histórica incorporada à paisagem que é sagrada. Tomando com exemplo do autor, UM MITO DA CRIAÇÃO: OS SOPROS, onde os povos indígenas, como os Tariana, possuem rituais que os conectam à natureza desde o nascimento, utilizando elementos naturais para fortalecer e proteger os iniciados.

Caminhando ao longo da exposição e da história da Amazônia, percebo, não só a importância de seus ecossistemas, como é fortemente destacado hoje, mas a mim que faço parte deste universo, a importância de suas populações povos e línguas, que ao longo da história de ocupação por colonizador exógeno, nunca foram colocados em papel de relevância que efetivamente ocupam. Eles são a base de um território desafiador que continua sendo socialmente construído, e lutam, ou pelo menos tentam, por uma sociedade que dê oportunidade igual para todos e que consiga conviver de forma harmoniosa com a riqueza que a natureza nos brindou.

Como estudantes de economia e amazônidas, fundamental se faz entender também O LEGADO ECONÔMICO DO PASSADO deixados pelos povos indígenas, que apesar de não utilizarem a roda ou animais de tração, conseguiram domesticar espécies, modificar o território e contribuíram significativamente para a agricultura moderna, domesticando mais da metade dos grãos alimentícios comerciais e uma parte substancial dos produtos agrícolas encontrados nos supermercados atuais.

Por fim, o texto de Marcio Souza é rico em detalhes sobre a história da Amazônia antes da chegada dos colonizadores, fazendo uma abordagem bastante crítica as percepções atuais eivadas de pré-conceitos sobre a realidade. Com uma ênfase na complexidade das sociedades indígenas e na riqueza cultural da Amazônia, provoca uma reflexão sobre o impacto da colonização europeia, seus furtos e frutos, muitos de sabor amargo e alerta sobre a importância da conservação de seus ecossistemas e de sua diversidade sociocultural.

Esse passeio sensorial pela “diversidade amazônica”, ajuda a reforçar a reflexão trazida pelo texto. Em cada parada, leitura, observação, somos levados a encarar nossa história, suas consequências e nossa ação atual para referendar ou contestar, e tentar modificar, esse enredo escrito por mãos visíveis e invisíveis de muitos que não tem relação ou compromisso com a nossa região.


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