terça-feira, 25 de outubro de 2016

Viajar para a Amazônia (Crianças): uma aventura inesquecível

Fonte: Revista Crescer 24/10/2016
Uma interessante opção para levar as crianças a conhecerem uma região diferente. A reportagem descreve o passeio até o Amazonas, mas nos demais estados da região se pode encontrar opções similares.

Passear pelo rio Negro de barco, visitar algumas de suas comunidades ribeirinhas e se aventurar em meio a botos e jacarés foi uma experiência marcante para 20 crianças da cidade grande

Por Depoimento de Sonia Penteado Edição Renata Menezes
Amazônia (Foto: Divulgação)
                                                                          “Foi exatamente em 22 de abril que o nosso grupo, composto de 20 crianças de 3 a 11 anos, dois adolescentes e 26 adultos, todos de São Paulo, iniciou sua descoberta de um Brasil até então desconhecido de quase todos ali – e também da maioria dos brasileiros. De barco, rio Negro acima, começamos nossa rápida, porém intensa viagem para explorar algumas das belas paisagens da floresta amazônica. Conhecer comunidades ribeirinhas e, ainda, nos aventurar em mergulhos com botos e procurar jacarés, em meio a uma escuridão e a um silêncio nunca experimentados em uma cidade grande, foram experiências maravilhosas.  
A viagem, na verdade, começou muito antes do dia 22. Sou jornalista, e como trabalho também como consultora na gestão de projetos de responsabilidade social para a SAP, uma empresa alemã de software com iniciativas sociais na Amazônia, fiquei apaixonada pelo que conheci da região – que é quase nada diante da imensidão da floresta. Queria muito dividir essa paixão com meu marido e filhos, Gustavo, 9 anos, e Eduardo, 6. A melhor notícia veio quando comentei essa vontade com um grupo de pais de amigos dos meninos e quase todos toparam a aventura de alugar um barco e passar dois dias passeando pelo rio Negro.

Para tudo sair conforme o esperado, tivemos que decidir muitas coisas – desde o tamanho do barco que seria indicado para nós até quais remédios eram convenientes na viagem. Por incrível que pareça, a escolha do barco foi uma das definições mais rápidas – e é bom já esclarecer que esse é o custo mais alto da viagem (veja no fim da reportagem). Amigos que trabalham na Fundação Amazonas Sustentável, entidade responsável por projetos de desenvolvimento social em mais de 500 comunidades na bacia amazônica, já tinham indicado, pelo conforto e segurança, o Hélio Gabriel, com 19 cabines triplas. Cada um reservou sua passagem aérea e todos decidimos ficar hospedados no mesmo hotel para aproveitar Manaus nos dois dias em que não estivéssemos a bordo. Viajamos em um feriado de quatro dias e o passeio no rio duraria apenas dois.
Para compensar o valor alto do aluguel do iate, achamos melhor economizar em outras frentes – contratamos nossa própria cozinheira e dispensamos a operadora de viagem. Nós mesmos fizemos a aquisição do combustível e da comida. Isso significa que, na véspera da viagem, fomos às compras da gasolina e dos alimentos que seriam nosso café da manhã, almoço, lanches e jantar, nos dois dias do passeio. Teve gente que perdeu uma manhã nessa tarefa, mas, em compensação, conheceu o histórico Mercado Municipal de Manaus, que é fantástico. 
OS ÍNDIOS KAMBEBA
   Tudo pronto, partimos de Manaus, às 7 horas da manhã de uma sexta-feira, inicialmente em direção ao encontro das águas dos rios Negro (água bem escura) e Solimões (água barrenta). Tínhamos um grande desafio, que era entreter as crianças. Afinal, a primeira parada seria cerca de 90 quilômetros rio acima, com uma projeção de navegação de pouco mais de cinco horas. Apesar do cuidado em escolher antes com o guia quais as comunidades e os passeios que pareciam ser os mais divertidos para nossos pequenos – porém não muito distantes para não cansá-los no barco –, investimos em cadernos, lápis, livros, baralhos e outros jogos fáceis de transportar. O fato curioso é que, para as crianças, o próprio barco parecia convidar à folia. Tudo divertia – a escolha das cabines, os banhos na água escura do chuveiro no deck (que vinha do rio), os pratos que escorregavam nas mesas do restaurante e até as visitas cerimoniosas à cabine do capitão. Um ou outro teve ainda a sorte de ver botos saltando no rio ao longo da travessia. Também criamos uma regra, que foi cumprida à risca, de manter desligados  tablets e celulares o tempo todo.
Amazônia (Foto: Todd Gipstein / Getty Images)
                                                                           Sabia desde o início que queria mostrar a eles duas comunidades que conheço, mas o restante da programação estava aberta e dependia das condições da região no período da viagem e do ânimo da criançada. Em abril, o rio está cheio, o que torna ainda mais exuberante a navegação diante do volume de água que nos cerca, mas impede, pelo menos na região que visitamos, alguns passeios que parecem divertidos, como a pesca de piranhas e o descanso nas praias de rio, que quase desaparecem nessa época do ano. A cheia permite, no entanto, que o barco ancore bem pertinho das comunidades, facilitando o embarque e desembarque, e possibilitando um delicioso mergulho nas paradas. Assim, depois do almoço, com a comida deliciosa da Socorro, nossa cozinheira – que preparou uma mousse de cupuaçu deliciosa e que teve de ser repetida em todas as refeições seguintes –, fizemos nossa primeira parada em terra. Pouco mais de duas da tarde ancoramos em Três Unidos. Com cerca de 100 habitantes, a comunidade é ocupada por índios kambeba, que chegaram a ser classificados como extintos na década de 1970, mas que hoje se dividem em algumas comunidades no Alto Solimões e nessa área que visitamos, em um dos afluentes do rio Negro.
Quem nos recebeu foi Tomé, professor da escola e sobrinho do cacique, e também pela criançada kambeba, que adorou brincar com nossos filhos e mostrar suas habilidades em subir nas árvores. Nossas crianças  não fizeram feio, ajudaram a cuidar de pássaros, macacos e criaram colares, pulseiras, arcos e flechas. A escola, em Três Unidos, é uma descoberta à parte. Além de ter os equipamentos governamentais tradicionais para educação via satélite, possui tablets doados por um programa educacional, munidos com softwares específicos. A estrutura física é rústica, porém cheia de charme, que chama a atenção em meio à comunidade. Tomé conta que ali, em turmas multidisciplinares, se ensina toda a grade curricular governamental, mas também a língua e a cultura kambeba. As paredes estão repletas de desenhos das crianças, com palavras nas duas línguas. E nossos pequenos curiosos se embrenharam nas salas de aula, perguntando sobre os cursos, o transporte escolar e, principalmente, as brincadeiras.
O SALTO DO JACARÉO
   Depois de rápidas compras de artesanato e um mergulho no rio, seguimos para a comunidade de Tumbira. No meio do trajeto, uma chuva forte fez o capitão parar o barco que começava a balançar demais. Assim, conseguimos conhecer também o famoso banzeiro amazônico – quando as águas do rio se agitam em função das chuvas fortes. Foram poucos minutos, ninguém se assustou demais e jantamos tranquilos antes de chegar em Tumbira. A comunidade, para nós, é a joia da floresta. Com cerca de 100 habitantes também, a vila já seria encantadora apenas pela simpatia e disposição em ajudar do senhor Roberto, líder comunitário, dono da pousada, bancário, guia turístico e ótimo contador de histórias. Mas Tumbira tem muito mais. Logo que o barco ancorou, fomos, divididos em três embarcações menores, com o líder da comunidade à procura de jacarés, com lanternas, um certo frio na barriga e uma sensação de sermos mesmo muito pequenos diante daquela natureza toda, coroada por uma enorme lua cheia e um silêncio impressionante. Ver o jacaré saltando fora d’água para comer um peixe usado como isca por moradores da beira do rio parecia cena de filmes de aventura e mesmo os adultos ficaram maravilhados. Não vi perigo algum nesse passeio, pois ficamos em uma margem de um braço do rio e os jacarés em outra.
Mapa da região amazônica (Foto: Amanda Filippi)
BOTOS ENCANTADORES
Na manhã seguinte, conseguimos visitar toda a comunidade e, depois de uma rápida trilha na floresta, seguimos para nadar com botos e ver uma criação de pirarucu disponíveis em uma plataforma turística, na lagoa de Acajatuba, cerca de duas horas de Tumbira, já no caminho de volta a Manaus.
Não tem como não se encantar com eles. Nessas plataformas, que funcionam apenas algumas horas por semana para que o animal não perca a capacidade de caçar sua comida, os botos chegam tão próximos que é possível passar as mãos. No mesmo local, existia um tanque para criação de pirarucu, peixe que chega a medir três metros e pesar mais de 200 quilos. Para nossas crianças, os animais vistos eram os dinossauros dos peixes, por serem enormes e com uma cara muito feia. Assim, depois de dois dias intensos, voltamos a Manaus, onde chegamos no início da noite, cansados, cheios de histórias para contar e com uma vontade enorme de voltar.”
PROGRAME SUA VIAGEM
   Se você também quer reunir um grupo de amigos para se aventurar pelo rio Negro, veja algumas informações úteis para uma viagem de dois dias de barco:
Barco: O Hélio Gabriel custa R$ 30 mil, com 19 cabines triplas (57 camas), dois barquinhos para transporte dos grupos aos passeios e sete tripulantes. Pode ser alugado no endereço amazonjunglepalace.com.br. O combustível sai cerca de R$ 9,8 mil. Ou seja, o barco com o combustível divido por 57 pessoas custa, em média, R$ 874 por pessoa.
Época do ano: De novembro a julho, o rio Negro recebe águas do degelo dos Andes e das chuvas na Amazônia, atingindo o pico das cheias entre junho e julho. De agosto a novembro, as águas baixam para, então, reiniciar a cheia. As duas épocas são lindas, mas a cheia parece ser mais impactante.
Idade das crianças: Não há nenhuma restrição. Porém, as crianças com mais de 5 anos tendem a aproveitar mais a aventura e a se cansarem menos nos passeios.
Alimentação: Uma cozinheira e um ajudante custam cerca de R$ 700 (dois dias). A compra da comida pode ser feita em supermercados de Manaus. O legal é mesclar refeições com pratos típicos (basicamente peixes amazônicos) que agradem às crianças, como arroz e feijão e macarrão. Frutas da região também são um sucesso.
Passeios: Custam todos entre R$ 15 e R$ 20 por pessoa (trilha, jacaré e boto).
As visitas nas comunidades geralmente não são cobradas.
Clima: Sempre muito quente (cerca de 30°C) e úmido.
Mala: Deve conter praticamente peças de verão com uma blusa de frio para ficar no deck do barco à noite. As trilhas também pedem calça comprida e camiseta de manga comprida por causa dos insetos (no rio não tem). Não se esqueça de levar protetor solar, repelente e remédios básicos para enjoos, dor, febre ou alergias.

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