No sábado dia 13 de abril por conta de atividade extra da Disciplina Economia Amazônica do curso de Economia da UFPA, na qual sou aluno, e tenho o professor Eduardo Costa, como o docente responsável, visitei o Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém, Pará, que é um espaço dedicado à exposição permanente “Diversidades Amazônicas”, que reúne um variado acervo do próprio Museu, que nos apresenta conhecimentos científicos e tradicionais do vasto território amazônico. Descobri que o nome do espaço é uma homenagem ao antropólogo Eduardo Galvão, uma referência em estudos de populações indígenas da Amazônia.
A experiencia vivenciada me trouxe uma contradição de sentimentos, entre
a alegria de descobrir um espaço rico e moderno de conhecimento sobre a região,
que com sua diversidade de ecossistemas, povos e culturas, me permite reafirmar
minha amazonidade e convicção de que é importante continuar lutando pela
conservação do que temos aqui. E a tristeza de rememorar toda a caminhada
dolorosa e injusta que já vivenciamos e, ainda continuamos a enfrentar, de
seres exógenos, que com a ajuda de muitos locais, tentam impedir de nos
realizarmos plenamente como sociedade.
Na caminhada, começamos na pré-história da região, com diversos
artefatos paleontológicos desde sua formação há milhões de anos. Não se tratou das
ORIGENS DO HOMEM AMAZÔNICO, que teria atravessado o estreito de Bering e
chegado ao vale do rio Amazonas há cerca de 15 mil anos, marcando o início da
ocupação humana na região. Ou mesmo das TEORIAS FANTÁSTICAS e fantasiosas
sobre a ocupação humana na Amazônia, como a lenda mais extraordinária, para
Marcio Souza de que OS CHINESES CHEGARAM ANTES DOS EUROPEUS aqui pelas
terras amazônicas. Mas a exposição nos apresenta a árvore da vida em sua
diversidade de seres da flora e fauna, com formas medidas e funções tão
distintas e importantes. Um espaço sensorial para se sentir imerso na floresta,
com a visão do verde, que não é inferno, e sim o paraíso quase perdido, e seus melodiosos
e misteriosos sons e imagens. Histórias, plantas, bichos, rios, artefatos culturais, quantas
sensações em tão pouco tempo e espaço.
Quando os europeus aqui chegaram, encontraram sociedades hierarquizadas,
densamente povoadas e culturalmente ricas. Descobriram que A AMAZÔNIA NÃO
ERA UM VAZIO DEMOGRÁFICO, contrariando o senso comum, que infelizmente
ainda hoje existe. As populações da Amazônia desenvolveram uma cultura
adaptativa bem-sucedida à selva tropical, e OS POVOS INDÍGENAS ONTEM, HOJE E
AMANHÃ continuam desmentindo preconceitos sobre seu suposto primitivismo e desafiando
as concepções eurocêntricas, levando a uma reavaliação das diferenças culturais
e à necessidade de encontrar parâmetros para entendê-las. Aqui existiam e ainda
existem AS SOCIEDADES COMPLEXAS DA AMAZÔNIA, que desafiam a visão de que
a Amazônia era uma região de poucos recursos e baixa densidade populacional.
A exposição combinada com a experiência de vida de cada um, nos leva a
compreender O QUE É A CULTURA DA FLORESTA TROPICAL. Uma cultura
definida pelos elementos econômicos compartilhados, e especialmente centrada na
mandioca. Uma cultura baseada na agricultura intensiva de tubérculos, tão
intrinsecamente ligada ao cultivo que sua origem se confunde com a origem das
plantas cultivadas.
Especial atenção me chamou o espaço dedicado AS LÍNGUAS AMAZÔNICAS, construído
com uma beleza estética marcante, com suas árvores linguísticas
associadas a características de espécies vegetais, e a belíssima sonoridade de
cada grupo de línguas exibidas. A diversidade linguística dos povos da Amazônia,
que é tão vasta e pouco conhecida, causa uma certa incompreensão e tristeza,
pois muitos desses idiomas estão em processo de desaparecimento, o que
compromete a diversidade linguística e empobrece a expressão humana. Pior: a perda
de línguas é frequentemente associada à perda de território e formas de vida
das comunidades que as falam.
A Amazônia sempre foi vista como uma região sem história devido à sua
condição geográfica e pelo olhar eurocêntrico. No entanto, cada vez mais, estudos
recentes têm desafiado a visão tradicional e revelado a riqueza histórica das
sociedades, descortinando O PASSADO NA MEMÓRIA DOS MITOS E DAS LENDAS. Os
mitos e lendas indígenas preservam memórias do passado pré-colonial. A
historiografia amazônica tem enfrentado desafios epistemológicos, mas estudos
recentes têm destacado a importância dos mitos como fonte histórica. O processo
histórico é seletivo e a representação do passado é influenciada pelo encontro
entre diferentes culturas. Para os povos originários amazônicos, a história se
manifesta através dos mitos e da consciência histórica incorporada à paisagem que
é sagrada. Tomando com exemplo do autor, UM MITO DA CRIAÇÃO: OS SOPROS,
onde os povos indígenas, como os Tariana, possuem rituais que os conectam à
natureza desde o nascimento, utilizando elementos naturais para fortalecer e
proteger os iniciados.
Caminhando ao longo da exposição e da história da Amazônia, percebo, não
só a importância de seus ecossistemas, como é fortemente destacado hoje, mas a
mim que faço parte deste universo, a importância de suas populações povos e
línguas, que ao longo da história de ocupação por colonizador exógeno, nunca
foram colocados em papel de relevância que efetivamente ocupam. Eles são a base
de um território desafiador que continua sendo socialmente construído, e lutam,
ou pelo menos tentam, por uma sociedade que dê oportunidade igual para todos e
que consiga conviver de forma harmoniosa com a riqueza que a natureza nos
brindou.
Como estudantes de economia e amazônidas, fundamental se faz entender
também O LEGADO ECONÔMICO DO PASSADO deixados pelos povos indígenas, que
apesar de não utilizarem a roda ou animais de tração, conseguiram domesticar
espécies, modificar o território e contribuíram significativamente para a
agricultura moderna, domesticando mais da metade dos grãos alimentícios
comerciais e uma parte substancial dos produtos agrícolas encontrados nos
supermercados atuais.
Por fim, o texto de Marcio Souza é rico em detalhes sobre a história da
Amazônia antes da chegada dos colonizadores, fazendo uma abordagem bastante crítica
as percepções atuais eivadas de pré-conceitos sobre a realidade. Com uma ênfase
na complexidade das sociedades indígenas e na riqueza cultural da Amazônia,
provoca uma reflexão sobre o impacto da colonização europeia, seus furtos e
frutos, muitos de sabor amargo e alerta sobre a importância da conservação de
seus ecossistemas e de sua diversidade sociocultural.
Esse passeio sensorial pela “diversidade amazônica”, ajuda
a reforçar a reflexão trazida pelo texto. Em cada parada, leitura, observação,
somos levados a encarar nossa história, suas consequências e nossa ação atual
para referendar ou contestar, e tentar modificar, esse enredo escrito por mãos visíveis
e invisíveis de muitos que não tem relação ou compromisso com a nossa região.