Em tempos de crise hídrica, as soluções mais ousadas começam a surgir. Uma transposição desse porte seria viabilizada???
Especialista defende amplo debate para definir tipo de obra e impactos. Serviço Geológico diz que AM dispõe de vazão mil vezes o que necessita SP.
Fonte: G1 AM 08/02/2015
Os grandes rios estão longes das grandes concentrações populacionais do país. Os problemas com abastecimento de água poderiam ser solucionados com obras que levassem água do Rio Amazonas para as regiões afetadas, de acordo com o superintendente regional do CPRM, Marco Antônio Oliveira.
"Claro que é um assunto bastante polêmico, envolve questões ambientais. Tem uma reação muito grande de quem é contra, mas acho que temos que debater esse tema porque a Bacia Amazônica concentra mais de 90% da água doce do Brasil, sendo que aqui a população não representa 10% da população total brasileira. Enquanto as regiões Sudeste e Nordeste concentram quase 80% da população e tem uma disponibilidade hídrica de menos de 15%, ou seja, há um desequilíbrio entre a oferta de água e a demanda. Temos que olhar esse aspecto com muita seriedade, porque energia tem solução, mas não tem solução para fabricar água. É preciso deslocar água para onde falta", justificou o representante do órgão que monitora dados geológicos e hidrológicos do país.
transposição de águas do Rio Amazonas (Foto: Camila Henriques/G1 AM)
"Para São Paulo, o que falta no Sistema Cantareira são 30 metros cúbicos por segundo, ou seja, o Amazonas dispõe de uma vazão mil vezes o que necessita em São Paulo e no Nordeste. Se fizesse um desvio de água de 1% desses 200 mil m³, para o Rio Amazonas não seria nada, um desvio insignificante, mas que representa quase toda a vazão do Rio São Francisco", afirmou o superintendente.
"Com um projeto bem planejado poderia ser possível sim levar água para essas regiões. Seria projeto pioneiro, não tem similar no mundo, talvez o da China que está fazendo uma transposição do Himalaia para Região Norte do país. A questão de vender a água é um mercado que não existe, vai ser criado. Temos condições naturais de fornecer água para o Brasil inteiro, não é uma retirada como essa que vai afetar a disponibilidade hídrica da região Norte. Aqui temos água na atmosfera, nos rios e no subsolo. Agora qual vai ser a obra e o tipo de intervenção que vão ser feitas são assuntos que têm que ser debatidos. Provavelmente, terá impacto como, por exemplo, a mistura de ecossistemas, mas é um impacto que precisa ser mensurado e mitigado", ressaltou Marco Antônio Oliveira.
No último dia 3, o governador José Melo sugeriu a transposição de parte das águas de um dos mais extensos rios do mundo e de maior fluxo de água por vazão: o Rio Amazonas.
"Eu sou daqueles que entende que a solução passa pelo Amazonas. Você tem o Nordeste Brasileiro com solos extremamente férteis, mas não tem água. E agora o Sudeste do Brasil padecendo da falta de água. A pergunta que deixo para o Brasil é o seguinte: por que não levar água da Foz do Amazonas, que tem em abundância, para o Sul, Sudeste e, sobretudo, para o Nordeste, onde há solos abundantes e ricos? Não precisaríamos levar água todo dia. Quando no período de chuvas resolvessem a questão do abastecimento dos reservatórios, a torneira estava fechada. Quando isso não acontecesse, o Amazonas estaria lá para socorrer", afirmou o governador.
Parlamentares divergem
A proposta foi alvo de críticas nas redes sociais e gerou polêmica em Brasília, dividindo opiniões dos parlamentares da Região Norte. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), disse que é favorável à possibilidade, mas avaliou que o assunto precisa de amplo debate.
"Existe a possibilidade de se fazer aquedutos no sentido de se distribuir água da Região Amazônica para outras regiões do país. Agora, obviamente, que nós da Amazônia vamos querer um debate profundo, que envolva não só a questão ambiental, mas questão social e econômica também", opinou a senadora.
Já o deputado federal Édio Lopes (PMDB/RR) considerou que a questão da crise hídrica no Centro-Sul do país é uma questão momentânea e não necessita de intervenções radicais. "Ações serão desenvolvidas e em breve alcançaremos a autossuficiência hídrica na região", comentou o deputado.
Carlos Nobre, especialista em mudanças climáticas e secretário do Ministério da Ciência e Tecnologia, também disse que não é o caso de se pensar em soluções drásticas. "O Sudeste tem água suficiente de modo geral, mas é preciso uma administração mais moderna desse recurso valioso, uma gestão mais eficiente, cuidar da qualidade da água e também a recomposição da vegetação das bacias de captação de água", avaliou.
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