Fonte: amazonia.org.br 11/02/2016
Pesquisadores estimam que posteriormente esta população foi dizimada por doenças, escravidão e guerras
“Na Amazônia o difícil não é achar um sítio arqueológico, mas é saber o que fazer com ele.” A frase dita pelo professor e arqueólogo Eduardo Neves em tom de brincadeira, mas com um fundo de verdade, reforça o que muitos pesquisadores têm estudado nos últimos anos: uma ampla ocupação humana na região da Amazônia Legal antes da chegada dos portugueses no Brasil.
Pintura rupestre dos indígenas pré-cabralinos em Cachoeira Resplendor, Pará. Domínio Público / CC / Wikimedia Commons
Neves, que é professor do departamento de Arqueologia da Universidade de São Paulo, é apenas um dos estudiosos que buscam evidências dessa presença humana na Amazônia pré-colonial. Ele e outros pesquisadores como Charles Clement, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, apresentaram algumas projeções num artigo publicado pela revista científica Proccedings B, da Sociedade Real da Inglaterra, no ano passado.
Eles sugerem uma Amazônia toda habitada por cerca de 8 milhões de pessoas, que posteriormente foram dizimadas por doenças, escravidão e guerras.
Neves explica que as áreas estudadas apresentam muitos vestígios que podem comprovar esta ocupação. Para ele, os achados arqueológicos provam que a Amazônia não é uma terra “À Margem da História”, como sugeriu o escritor Euclides da Cunha, em livro escrito no ano de 1909.
“As pessoas têm essa ideia aqui no Brasil, de que a Amazônia sempre foi desabitada, sempre teve pouca gente, e é importante falar: olha, tinha gente pra caramba no passado. Porque esta questão, você o que está acontecendo agora no Tapajós, as usinas que querem construir no Tapajós. Elas estão baseadas na crença de que o Tapajós é uma região desabitada e na verdade a gente sabe que existem milhares de índios munduruku que vivem ali, e as populações ribeirinhas também. Então acho importante combater esse mito de que a Amazônia é uma terra sem gente. E na verdade essa é uma ideia incorreta, ela não tem nenhuma base científica ou factual pra isso”, diz o pesquisador.Outro fator importante apontado pelos estudiosos é que estes habitantes podem ter ajudado a criar a floresta amazônica, tal como se conhece atualmente. O pesquisar do INPA, Charles Clement, reforça que castanhais, açaizais e outras diversas espécies de árvores podem ter sido plantadas pelos índios ancestrais.